quarta-feira, 11 de junho de 2014

Cascas de banana

     Cascas de bananas em campanhas políticas são inevitáveis. Às vezes, os adversários jogam. Outras vezes, o próprio candidato joga - e pisa.
     O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff (PT) que foi ao ar ontem (terça, 10) é uma casca grossa de banana. Dilma, candidata à reeleição pelo PT, passou a impressão de não saber a realidade do país onde vive. O Brasil da Copa mostrado por ela não é o Brasil que as pessoas veem nas ruas.
     Não dá para tampar o sol com peneira. Falar que o legado da Copa são as obras que o país recebeu é brincar com a paciência de um povo que já anda sem paciência. Dizer que os aeroportos estão prontos é apostar na alienação total da população. O aeroporto de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, cujas promessas de obras duram anos, não está pronto. Apenas metade das obras foi concluída. A outra metade...sabe-se lá quando ficará pronta. Se ficar.
     O trem-bala prometido por Dilma ficou na promessa. Não ocorreram investimentos significativos na segurança, saúde e educação básica. Nem em infraestrutura viária, marítima ou aeroviária. Ainda em Minas, continuamos sem metrô, Anel Rodoviário e duplicação da BR-381. A capital, Belo Horizonte, ganhou um BRT que ainda se move a meia-boca.
     A Copa deixou estádios que depois fatalmente virarão elefantes brancos (como os de Manaus, Cuiabá e Brasília). A presidente disse que, se houve irregularidades nas contas, os responsáveis serão punidos. Seria um atestado de que realmente houve irregularidade? E será mesmo que a presidente acredita que uma população já descrente, que sai às ruas todos os dias para trabalhar e enfrenta a péssima qualidade dos transportes públicos, acredita no que foi ao ar em seu pronunciamento? Casca de banana, presidente. O ufanismo não ajuda quando se tem uma população estrangulada por dívidas, inadimplência, hospitais que não atendem, segurança que não protege. Melhor teria sido um pronunciamento pé no chão, com mais humildade, dizendo que o país fez o melhor, que enfrentou dificuldades com as obras, mas que a Copa está aí.
     Humildade (não confunda com sentimento de derrota ou subserviência) é palavra-chave em campanha eleitoral. E, nesse quesito, o senador Aécio Neves (PSDB), principal candidato da oposição, também deu uma escorregadela numa casca de banana ao mandar a presidente Dilma se aposentar, durante o evento que homologou a candidatura de Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo do estado, realizado também ontem. Aécio aposta na perda de prestígio de Dilma e a queda de popularidade da presidente nas pesquisas, mas é preciso cuidado com as palavras. De uma forma geral, o eleitor não gosta de bravatas e ataques gratuitos. Há uma parcela significativa do eleitorado que ainda está indecisa. Bravatas como essas não ajudam muito nessa hora. Desagradam quem está indeciso. Alguns eleitores classificariam a frase como "arrogante".
     Outra casca de banana tem aparecido nas manchetes de jornais. A imprensa faz barulho para dizer que o mercado financeiro sobe sempre que alguma pesquisa mostra queda do prestígio de Dilma. Se a presidente tiver um bom marqueteiro, pode usar isso para dizer que, se ela desagrada aos mercados, é porque seu partido tem o foco no social. Pode se apoderar da bandeira do social, que Aécio tem lutado para trazer para seu lado.
     Enfim, coisas de campanha política.
     Os candidatos têm problemas maiores para se preocupar. Dilma viu o PMDB sair rachado da convenção em que decidiu apoiá-la. O Brasil viu, assustado, Michel Temer dizer na TV, durante a convenção, que o PMDB não é um simples aliado do PT, mas sim o próprio poder. Um bom marqueteiro também poderia usar a frase para questionar quem, afinal, dá as cartas no governo. O PT? Dilma? Ou o PMDB de Temer?
    É aquela história: em campanha, como na vida, é preciso ouvir, aprender, apreender, planejar, executar e, acima de tudo, ter os nervos sob controle e evitar as cascas de banana. Elas estão aí, prontas para quem quiser pisar.
     Volto a lembrar uma frase que era repetida à exaustão pelo ex-governador Hélio Garcia: em política, não há lugar para gestos inúteis.

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