quinta-feira, 5 de junho de 2014

Brisa, bolha e aço colombiano

     Soou como uma brisa, ou música, para o mercado imobiliário, o lançamento na terça-feira (dia 3 de junho) da C-Sul. Trata-se de um empreendimento urbanístico a ser desenvolvido na região da Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima e Itabirito, assinado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner (na foto, de preto, com o grupo de empreendedores), ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná.
     O motivo de o lançamento ter soado como brisa deve-se ao fato de ser um empreendimento milionário e envolver empresas e investidores de porte, num momento em que o mercado imobiliário brasileiro vive uma maré de incertezas. A concepção é grandiosa: o C-Sul é um projeto urbanístico a ser desenvolvido numa área de 27 milhões de metros quadrados, adquirida por R$ 315 milhões, dentro do conceito de "morar, trabalhar e se divertir num só lugar", em voga no Primeiro Mundo. Participam do projeto o Grupo Asamar (dono a Ale), Alicerce Empreendimentos, BVEP (braço imobiliário do Grupo Votorantim), MINDT e AGHC Participações. A inauguração deve ocorrer em 2016 e já há um empreendimento confirmado: o Shopping Premium, do Iguatemi.
     Em Belo Horizonte, a Direcional também se prepara para lançar empreendimento do mesmo gênero, também assinado por Lerner, mas direcionado à classe econômica.
     São movimentos que animam um mercado praticamente parado. O estoque de imóveis novos está alto e muitas construtoras e investidores estão ficando sem capital de giro. Há quem aposte que pelo menos um grande player do setor fechará as portas até o fim do ano.
     E há uma bolha localizada: há seis ou sete anos atrás, quando o mercado imobiliário estava altamente aquecido e havia se transformado num negócio de rentabilidade atrativa, investidores de porte aplicaram pequenas fortunas no setor, construindo lojas e galpões para locação. Hoje, com o mercado parado, os galpões permanecem vazios e esses investidores, que sonharam em ganhar dinheiro com aluguéis, estão descapitalizados. Basta um giro por Belo Horizonte e Contagem para descobrir centenas de imóveis - destinados à locação - fechados. Em Contagem, estima-se que existam mais de 300 galpões desocupados. Como não há perspectivas de um aquecimento da economia este ano, o cenário de incerteza permanece.
    As distorções da economia brasileira estão afetando inclusive a indústria que trabalha com foco na construção civil. Em Minas, a Gerdau Açominas enfrenta a concorrência pesada do aço colombiano, fortemente subsidiado pelo governo daquele país. Se antes era o aço chinês que incomodava, agora até o produto feito na Colômbia consegue entrar no mercado brasileiro a preços competitivos. Ouro Branco, município que sedia a unidade industrial da empresa, já sentiu os efeitos da concorrência.
     É nesse cenário incômodo que o lançamento da C-Sul trouxe boas expectativas. A conferir.
     Em tempo (e agora fora do mercado imobiliário): a unidade da Oi que opera com telefonia fixa também enfrenta dificuldades de mercado, principalmente pela obrigatoriedade de manter orelhões nos mais distantes rincões do estado.
     O Brasil de 2014, que vai dançar em ritmo de Copa, manifestações e eleições, continua em compasso de espera.
       
   

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