Aconteceu de novo.
Foi na segunda-feira, durante o jogo entre Brasil e Camarões, no estádio Mané Garrincha, em Brasília (foto Agência Brasil).
Após o quarto gol do Brasil (a seleção venceu por 4x1), torcedores presentes no estádio voltaram a xingar a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.
O mesmo xingamento tosco já usado na partida de abertura da Copa, entre Brasil e Croácia.
Os xingamentos, por piores que sejam, trazem uma lição: a de que a insatisfação com a presidente Dilma não foi amortecida pelos bons resultados da seleção brasileira. De fato, Dilma nunca esteve tão mal avaliada pela população.
O índice de rejeição da presidente (ou seja, quem não votaria nela de forma alguma), segundo pesquisas já divulgadas, atinge 42%. Nunca antes na história desse país um governante com mais de 40% foi reeleito ou elegeu o sucessor. A intenções de voto na presidente estão oscilando, mas já chegaram a bater em 33%, o que também acende a luz amarela no Planalto.
Há outra lição aí: a sociedade brasileira, já amadurecida, aprendeu a separar futebol e eleições.
Na hora da Copa, ela torce e vibra pelo Brasil.
Mas não se esquece de que a fatura da Copa vai chegar e que o país da Copa vai mal das pernas quando o negócio é serviço público e economia.
As últimas notícias da economia não são boas para o país. Não são boas para nenhum brasileiro.
Dados divulgados ontem mostram que saldo líquido de vagas de trabalho com carteira assinada em maio é o pior resultado para o mês nos últimos 22 anos. A anemia da indústria brasileira é a principal responsável pelo resultado. O saldo (58,8 vagas) é quase 20% menor do que maio de 2013 (e em ano de Copa do Mundo). A indústria de transformação apresentou saldo negativo de 22.533 postos de trabalho.
Tudo isso é reflexo de uma política econômica errática, que privilegiou o consumo mas se esqueceu de fortalecer quem garante o consumo: a indústria nacional, sufocada por impostos e burocracia.
Sem competitividade, a indústria brasileira viu a ânsia de consumo dos brasileiros ser atendida por produtos importados. Resultado: rombo recorde nas contas externas de praticamente R$ 13 bilhões, o pior para o mês de maio desde 1980.
Sem competitividade, a indústria nacional está demitindo e afetando os dados de emprego no país. O pior é que estão justamente na indústria os empregos mais qualificados, com melhores salários.
Com a indústria demitindo, o consumidor freia as compras. O comércio também sofre. A economia para. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer apenas 1% este ano, segundo estimativas do mercado.
A inflação continua alta, correndo o poder de compra do trabalhador. Os juros continuam altos, afastando ainda mais o consumidor das lojas.
Tudo isso gera desconfiança em consumidores, empresários e investidores. Ninguém sabe o que virá aí. Ninguém sabe como 2014 terminará e 2015 começará. Na dúvida, todos se recolhem.
Os ufanistas, ou mal informados, ou apenas os apaixonados pela presidente, dizem que tais análises são de pessimistas e não se sustentam. Que o novo saque que o governo planeja fazer nas contas da Petrobras é normal. Que a Copa é um sucesso e tudo vai bem. Que temos complexo de vira-lata. Ok, a Copa vai bem, mas não consegue mais fazer maquiagem na economia. Como disse, o brasileiro, aparentemente, aprendeu a separar pão e circo. Na hora do circo, circo. Na hora do pão, o bicho pega.
Os números falam por si. São números oficiais, do governo. O crescimento pífio do país esses ano já é admitido inclusive pelo austero Banco Central (BC). A economia estagnada não é fruto dos pessimistas de plantão. Claro, haverá sempre quem queira levar a coisa para esse lado. Mas paixão é paixão. E razão é razão.
Se a torcida xinga dentro do campo, é porque aqui fora o jogo não está tão bom.
O pior cego não é aquele que não ver ver. É aquele que vê e finge que nada vê.
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