Fico olhando as propagandas políticas, o discurso de candidatos, o noticiário do dia. Bate um cansaço. Hoje, mente-se descaradamente na cara do eleitor. Sem pudor, sem vergonha. Continuam fazendo promessas como se falassem a um bando de estúpidos. As eleições, que podem ou não colocar o Brasil de volta ao jogo do século 21, viraram briga de turma. Minha turma é melhor que a sua. Minha turma rouba menos que a sua. Minha turma roubou, mas a sua também. Meus capangas são melhores que os seus. Meu partido é diferente dos outros, embora tenha feito tudo que os outros fazem. Os 500 picaretas viraram doutores.A corrupção se banalizou. Dinheiro na cueca é fichinha. Propinas para Petrobras ou Alston não dão em nada.
Aliás, dão. Além do cansaço, dá um certo medo olhar o que todo esse cenário político está fazendo com o Brasil. Os linchamentos estão se tornando diários. Queimar ônibus é brinquedo de criança. Espancar os outros é tão fácil como um jogo de videogame. Saquear lojas e supermercados está se tornando rotina. Cara, que cansaço. Que tristeza. Que pobreza.
O retrato social do Brasil hoje é o retrato da descrença. O tecido social está se rasgando de forma perigosa. Sim, não é só aqui que isso acontece. Acontece na Turquia, no Egito, aconteceu recentemente na Europa em crise, acontece na África. Mas a Turquia vive uma crise política há décadas. O Egito vive uma guerra. A Europa sofre com a recessão e o desemprego. A África se divide em tribos, ditadores e fanatismo religioso. E aqui?
Aqui não há crise política. A economia não melhora e a inflação está aí, mas estamos longe do inferno. As instituições democráticas funcionam normalmente. O que está acontecendo com o Brasil?
Cansaço. Descrença. Ninguém acredita mais em leis ou nas instituições, como mostraram pesquisas recentes - e que foram citadas aqui mesmo, neste blog. Há um vulcão pronto para explodir no Brasil, e a turma do andar lá de cima e seus capangas continuam discutindo quem roubou mais ou roubou menos. A polícia mata inocentes. Presos degolam rivais enquanto a governadora come caviar. Viramos terra de ninguém. Terra do nunca. Cadê o Peter Pan? Sim, porque o Capitão Gancho já está aqui.
O Brasil está sem referências que consigam dar um norte às pessoas, que defendam valores como ética e dignidade. O andar de baixo viu a baixaria do de cima, achou legal, achou que esse é o jeito certo de fazer as coisas e está entrando na festa. Se eles roubam, nós podemos linchar. Se eles mentem, nós podemos matar. Se eles comem caviar, nós podemos comer abobrinhas e soltar gases com coquetel molotov. "Faça o que quiseres pois é tudo da lei", diria o pobre Raul Seixas, que um dia chegou a pedir a um moço no disco voador que o levasse para longe daqui.
O Brasil precisa de esperança. Precisa se recriar como nação. Precisa acreditar em valores como honestidade, respeito, ética. Tudo isso fica difícil quando as pessoas veem seus dirigentes pisando e cuspindo em tudo isso. Precisamos criar uma elite política que saiba compreender esse cenário e recolocar o país nos trilhos da civilidade. Que contribua para formar cidadãos. E que essa elite transborde bons valores para os brasileiros. Precisamos acreditar que ser corrupto não é a única forma de ganhar dinheiro, que linchar não é justiça, que saquear é crime, que há meios de prosperar mesmo sem ser um craque do futebol, que as leis funcionam para todos, que governar um país não é dividi-lo entre minha turma e sua turma, e que, sim, somos uma nação que pode ser melhor e mais bonita do que esse retrato feio que aparece todos os dias nos jornais.
Quanto tempo mais teremos de esperar para que isso aconteça?
Haverá tempo para isso ou nos destruiremos antes?
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