quarta-feira, 21 de maio de 2014

Lanterna na proa

     A economia, aqui e em qualquer lugar do mundo, é movida por fatores reais (renda, consumo, produção, investimentos) e também por elementos nem tão palpáveis. O principal elemento "não palpável" é a confiança.
     Ela, a confiança, é fundamental para movimentar a roda da fortuna. Um consumidor confiante vai às compras porque sabe que terá como pagar. Um investidor confiante vai ao mercado porque sabe que terá retorno de seu investimento. Um empresário expande sua fábrica porque confia na expansão do mercado. Quando não há confiança, nem consumidores, nem investidores e nem empresários enfiam a mão no bolso. O resultado é que a economia para.
     A economia brasileira está parando. Os dados de geração de emprego divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho mostram que tivemos o pior abril em 15 anos, com a geração de 105,4 mil postos de trabalho. Em abril do ano passado, foram 197 mil.
     O IPCA-15, também divulgado hoje, mostra que a inflação continua alta. O índice mostrou leve elevação, de 0,58%, em relação ao último levantamento, mas nos últimos 12 meses acumula alta de 6,31%. O consumidor sabe que alguns produtos ou serviços tiveram altas de até 10% nos últimos meses. A inflação corrói o salário e diminui o poder de compra do trabalhador. Com menos dinheiro, compra-se menos e sobe a inadimplência, já que fica mais difícil pagar as dívidas. Analistas acreditam que o Brasil vá crescer apenas 1,5% este ano. É muito pouco para um país de tanto potencial.
     A falta de confiança na economia é, sem dúvida, um combustível poderoso neste cenário. Ninguém sabe o que está por vir. Não se vê qualquer movimentação do governo na área econômica. Não há uma política industrial definida para o país. Os produtos importados continuam chegando, desestimulando a indústria nacional. Hoje, compra-se roupas da China diretamente da China, em sites especializados. O preço é menor e o produto chega à sua casa. Setores importantes, como o mercado imobiliário e a indústria automotiva, estão pisando no freio. A GM anunciou férias coletivas hoje. O país está sem lenço e sem documento. Sem rumo. O país está assustado.
     Não é segredo para ninguém que o Brasil cresceu nos últimos anos baseado no aumento do salário mínimo e programas sociais, que geraram consumo. Com o consumo, os setores de comércio e serviço aqueceram a economia e geraram empregos. Ok. Esse modelo foi eficiente até mesmo para blindar parcialmente o país da crise mundial de 2008. Mas faltou a segunda parte: investir pesado em infraestrutura, reduzir carga tributária (o brasileiro trabalha quatro meses no ano somente para pagar impostos) e impulsionar a indústria nacional. Resultado: o modelo esgotou-se, as pessoas se endividaram e o país parou de crescer. Para complicar, a inflação voltou.
     Pergunte a alguém do governo qual é a política econômica do Brasil. Provavelmente, ninguém saberá responder. Simplesmente porque não existe política econômica. Sem política econômica, as empresas se sentem inseguras para investir. Falta confiança. O capital, que não gosta de riscos, some. Investidores saem do Brasil para aplicar em lugares mais amigáveis. Por incrível que pareça, até o México hoje parece mais atraente para investidores do que o Brasil.
     Conclusão: confiança no futuro é capital para a economia. Quando se olha à frente, para as perspectivas do Brasil, ninguém sabe exatamente o que vai aparecer. Temos uma Copa do Mundo que gerou custos elevados (e ainda mal explicados) e cujo legado não será suficiente para compensar os mais de R$ 10 bilhões gastos com estádios. Venderam o paraíso em 2007 e estão entregando um inferno em 2014. A Copa vai fazer a economia parar durante um mês, e provavelmente teremos pesadas manifestações populares. Depois, vem a eleição, e aí nada mais funcionará mesmo - nem Congresso, nem governos.
     O Brasil é hoje uma casa desarrumada, cujos habitantes estão desconfiados em relação ao futuro e indignados com a corrupção e ausência de serviços públicos de qualidade. As grandes empresas, como Vale e Petrobras, também frearam investimentos. Estamos num barco sem rumo. Precisamos, com urgência, de uma lanterna na proa.

Crédito da foto: www.forwallpapper.com


   
   

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