As campanhas eleitorais, tanto para presidente quanto para governadores, estão começando cheias de arapucas, para todos os lados e todos os gostos. Promete ser pesada.
Na campanha presidencial, o PT está ressuscitando a velha luta de classes para tentar deter o avanço da oposição, representada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo governador Eduardo Campos (PSB-PE).
A ideia é mostrar que o partido governa para os pobres e é pai e mãe de todos os programas sociais do país, principalmente do Bolsa Família - e que uma eventual vitória da oposição na eleição pode favorecer os ricos, os bem-nascidos, e enterrar tudo que foi conquistado até agora. É uma arapuca da qual o próprio PT pode ser vítima.
Se ficar refém apenas desse discurso, o PT não terá argumentos para penetrar e conquistar votos em outros setores da pirâmide social - e mesmo as camadas mais baixas já estão mostrando insatisfação com os gastos bilionários da Copa do Mundo e a péssima qualidade dos serviços públicos, como saúde, educação e segurança. Os índices de rejeição da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, mostram que esse discurso é insuficiente para garantir a vitória em outubro. E, se a inflação sair mesmo de controle, vai corroer parte dos ganhos das políticas sociais. Críticas e escândalos políticos não "colavam" em Lula. Mas Dilma não é Lula.
O discurso da luta de classe pode também afugentar investimentos e investidores, parando de vez uma economia que já está com o pé no freio, minando a confiança no futuro e reduzindo o número de empregos - um dos trunfos do PT. Além do mais, Aécio já protocolou no Senado projeto de lei que torna o Bolsa Família um programa de Estado, e não de um governo. Ou seja, um programa vitalício. É bom lembrar que o Bolsa Família foi a união de vários programas de proteção social que já haviam sido lançados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Por outro lado, o PT perdeu uma bandeira: a desestatização promovida no governo de FHC, criticada duramente pelo partido até hoje. Ciente de que o atual governo não teria recursos para tocar programas de infraestrutura, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tratou de jogar estradas, ferrovias e aeroportos nas mãos da iniciativa privada. Traduzindo: uma bandeira da eleição passada, que mostrou-se eficiente para os petistas, pode virar uma arapuca agora para ser usada pela oposição. O partido terá que encontrar um discurso convincente para lidar com essas questões.
Já a estratégia de Aécio vem sendo a de bater forte no governo. Há também uma arapuca aí: as parcelas da população que foram beneficiadas por programas sociais e de distribuição de renda no governo petista podem rejeitar o discurso tucano. Podem acreditar, de fato, que Aécio significa uma ameaça aos programas sociais. O tucano terá que dosar seu discurso e mostrar as políticas sociais vitoriosas implantadas no estado, como o Mães de Minas.O lastro da campanha de Aécio deve ser seu legado, suas realizações em Minas, e não apenas a encarnação do anti-PT. Os eleitores que ainda não o conhecem querem saber o que o ex-governador de Minas fez no estado que governou. Querem saber o que ele faz para entender o que poderá fazer pelo Brasil.
Por fim, há uma grande arapuca chamada Copa do Mundo, que pode afetar tanto o governo quanto a oposição. Ninguém duvida de que haverá manifestações de rua. Ainda não dá para medir a intensidade e o impacto que terão nas campanhas. Quem primeiro souber decifrá-las e capturá-las terá uma vantagem preciosa na eleição. No ano passado, a perplexidade atrapalhou a leitura correta dos fatos. Neste sentido, as palavras-chave da campanha parecem ser "esperança" e "confiança". Quem passar essa leitura para o eleitor ficará em bons lençóis.
Já há algumas arapucas nas eleições para o governo de Minas também. O petista Fernando Pimentel é forte em Belo Horizonte e sua boa administração ainda está na memória das pessoas que moram na capital. O problema é que Pimentel aliou-se a Aécio em eleições passadas, o que limita o nível de ataque aos governos tucanos e pode dar um nó na cabeça dos eleitores.
Pimenta da Veiga luta contra o fato de ter ficado mais de uma década longe da política e ter abandonado a Prefeitura de BH para candidatar-se ao governo do estado. Ainda precisa construir sua imagem. Terá de centrar fogo na capital, que costuma decidir eleições. Seu trunfo é seu vice, Diniz Pinheiro, deputado estadual com altíssima votação no interior. Seu fantasma é o governador Alberto Pinto Coelho, cujo partido, o PP, ainda faz parte da base aliada de Dilma. Apesar do que dizem por aí, Alberto ainda é, sim, um plano B para os tucanos. Basta ver sua agenda diária.
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