segunda-feira, 26 de maio de 2014

O "fantasma" apareceu

     O "fantasma" do passado, também conhecido como possível retrocesso econômico, levado ao ar em recentes propagandas eleitorais do PT, já bateu na porta dos brasileiros. Ironicamente, a culpa é do próprio governo do PT. Matéria publicada em O Globo mostra que, segundo pesquisa do instituto Data Popular (realizada a pedido do jornal), a inflação já devorou, nos últimos 12 meses, R$ 73,4 bilhões da recém-formada classe média brasileira, a classe C, que tem vencimentos mensais entre R$ 1,2 a R$ 4,2 mil. Ou seja, a alta dos preços (ou a perda do poder aquisitivo da moeda, que é a inflação) já corroeu em um ano R$ 73,4 bilhões da nova classe média, que mal provou o gostinho de ser classe média. Para a Corretora Gradual, das 108 milhões de pessoas que compõem a classe C, cerca de 10 milhões já estão na porta para retornar à classe D.
     Alguma surpresa nisso? Não. Por que? Porquê todo mundo sabe que é isso que faz a inflação: ela corrói o poder aquisitivo das pessoas, principalmente da classe média e dos mais pobres. A inflação é perversa com a economia e ainda mais perversa com as camadas sociais mais baixas, que não têm como aplicar dinheiro em investimentos para proteger-se da inflação, como fazem as camadas mais altas.
     Por que a inflação está alta? Um dos motivos é o excesso de gastos do governo - ou gastos ineficientes. Como o governo gasta muito, precisa se endividar e lançar papéis no mercado. Para isso, é obrigado a emitir mais dinheiro. E isso gera inflação.
     O governo brasileiro tem gastado muito com uma máquina administrativa pesada, gorda e profundamente ineficiente. E, do ponto de vista ideológico, acredita que um pouco de inflação não faz mal a ninguém. Que é melhor crescer com inflação do que não crescer nada. Bom, o Data Popular está mostrando que inflação faz mal - e muito. E, pior: o Brasil não está crescendo (a perspectiva para esse ano é de um aumento de 1,5% do Produto Interno Bruto-PIB). Ou seja: o país não está crescendo, parou de gerar empregos qualificados e a inflação alta está empurrando a classe C de volta para a D.
     Como tudo que é ruim pode piorar, o Banco Central (BC) deve elevar os juros novamente na reunião do Copom essa semana para tentar combater a inflação. Juro alto é um remédio amargo contra a inflação, que poderia ser evitado se o governo controlasse seus gastos. Teremos então um quadro de juros altos, inflação ainda alta, economia com crescimento pífio, consumidores, investidores e empresários desconfiados e sem vontade de gastar ou investir. Ainda não é o fim do mundo, mas é um quadro complicado.
     Não se brinca com inflação. Quem viveu nos anos 1980 lembra como era ter uma inflação de 80% ao mês (é isso mesmo, 80% ao mês). Sucessivos planos econômicos para controlar a inflação geraram perdas e dor na população (quem não se lembra de pessoas se suicidando no Plano Collor, que confiscou a poupança?). E fracassaram. Até que um mineiro, o presidente Itamar Franco, lançou o Plano Real há exatos 20 anos, controlando, por fim, o fantasma inflacionário. Que agora, aos poucos, está voltando.
     O Brasil vive um momento singular. O país está em transe. Uma nova classe média, que sentiu o gostinho do consumo, pode ter de voltar para o andar de baixo. Esse, sim, é o fantasma real do país. Esse é o fantasma que cabe ao governo combater. Mas tudo ficará mais difícil se, ao invés de tomar medidas reais para colocar o fantasma de volta na geladeira, o governo preferir continuar brincando de inflação e de fantasmas imaginários.
     Há um bonde da história passando nesse exato momento na economia global. A Europa começa a se recuperar da crise que a abateu em 2008. Os Estados Unidos estão em recuperação e apostam em novas energias (como o gás de xisto), inovação e pesquisas. A Índia, que sempre se mostrou ao mundo com a face da miséria, tem agora um rosto marcado pela excelência tecnológica. Alguns dos grandes empreendedores do mundo (como a Mittal, maior grupo siderúrgico do mundo, que no Brasil comprou a Belgo-Mineira) estão lá. O "Vale do Silício" indiano tem revelado nomes importantes para a inovação tecnológica. A Coréia do Sul deixou uma situação econômica semelhante à do Brasil há algumas décadas e investiu em educação de qualidade. Hoje, é uma potência em tecnologia.
     E o Brasil? Onde vamos entrar nesse bonde? Vamos continuar implorando aos chineses que tragam dinheiro para cá para investir em infraestrutura? Vamos entrar mesmo no bonde? Ou vamos continuar caçando fantasmas?
   
     

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