O título deste post não se refere, obviamente, à Copa de futebol da Fifa, que terminou de forma vexatória para a seleção brasileira.
Falo da verdadeira Copa que o Brasil terá de enfrentar de maneira corajosa daqui para frente.
Há a Copa da economia. Temos de descobrir o esquema tático mais adequado para reduzir a inflação, dar competitividade à indústria nacional e manter a nova classe média viva, já que o dragão inflacionário ameaça devolver, à classe D, 10 milhões de brasileiros que acabaram de chegar à C. Não há muito o que fazer nesse caso: é preciso cortar gastos da máquina pública e coragem para fazer uma reforma tributária que seja capaz de aliviar o setor produtivo e redistribuir, de forma mais justa, o dinheiro da arrecadação de impostos entre estados, município e União. Hoje, praticamente toda a arrecadação é centralizada na União. Temos uma federação de mentirinha.
Há a Copa da educação. Não basta apenas abrir faculdades e formar profissionais incapazes de lidar, de forma satisfatória, com a rotina diária de seu trabalho. Se não fizermos um pacto para investir na educação de base, em nossas crianças, não chegaremos a lugar algum. Hoje, somos um país de analfabetos funcionais. E temos um exército de oito milhões de pessoas que não têm qualquer chance de chegar ao mercado de trabalho.
Há a Copa da saúde, que estamos perdendo de goleada. E não é por falta de recursos. É por falta de gestão, planejamento e profissionalismo por parte da esfera pública.
Há a Copa da infraestrutura, que vem nos aplicando uma goleada maior do que a imposta pelos 7 a 1 da Alemanha. Temos gargalos em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. A questão energética parece uma bomba pronta para explodir. A principal alavanca da economia, que tem sido o agronegócio, sofre dos dois lados. De um, não tem estradas ou portos para exportar o que produz da porteira para dentro. De outro, insumos como energia pesam cada vez mais na horta do produtor.
Há a Copa da corrupção. Precisamos vencer a cultura que vem do Brasil colonial, de que a corrupção é o único caminho a seguir. Precisamos punir e vencer a corrupção, que rouba bilhões de reais do país todos os anos. No Brasil de séculos atrás, trabalho era desonra. Nobres e filhos de famílias ricas não trabalhavam, ou só trabalhavam depois de formados na Europa. O que temos, na verdade, não é complexo de vira-lata. É complexo de nobreza.
Enfim, há um país esperando para ser construído. Avançamos alguma coisa nos últimos anos, mas tudo pode ser perder se fizermos, agora, as escolhas erradas na economia, na educação, na infraestrutura.
Países que durante décadas estiveram bem atrás do Brasil, como Colômbia, castigada durante anos pelo narcotráfico e guerrilha, e México, estão se tornando mais competitivos do que o Brasil. E até o Paraguai - pasmem - foi capaz de criar um sistema tributário simples e eficaz, que está revolucionando o país. Em breve, o Paraguai deixará de ser sinônimo de produtos importados de baixa qualidade e será um dos destaques da economia sul-americana. A reforma tributária no país vizinho, levada a cabo de forma silenciosa, conseguiu desestimular a sonegação e está atraindo indústrias, inclusive brasileiras, para seu território.
Teremos duas décadas decisivas à frente. Neste período, ou nos firmaremos no cenário global como uma potência econômica ou cairemos definitivamente no ostracismo e na irrelevância de exportador de commodities.
Tudo depende das nossas escolhas. As escolhas que a nascente sociedade brasileira, que deu as caras em junho do ano passado, fará daqui para frente.
Me espanta ainda ver tanta gente, que deveria ser luz para a sociedade, falando em "coxinhas", luta de classes, retrocessos.
Me espanta ainda ver tanta ignorância, tanta cegueira, tanta idiotice.
Me espanta ver uma classe política mais interessada no bolso do que no futuro do país. Se o Brasil perder esse bonde da história, não haverá volta. Estaremos condenados a sermos todos "coxinhas" sem recheio.
O mundo ainda espera que o Brasil ocupe o espaço que lhe cabe na nova ordem econômica mundial. Mas não esperará para sempre. Não existe vácuo. Outras nações, talvez mais inteligentes, ocuparão nosso lugar.
Essa é a verdadeira Copa do Mundo.
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