Diz a lenda que Alexandre, o Grande, deparou-se um dia com um desafio: desatar o nó inventado por Górdio, e que até então ninguém havia conseguido desfazer. Alexandre analisou o nó.... e, com um simples golpe de espada, rompeu-o (a ilustração ao lado retrata o fato).
Estamos hoje inebriados pela Copa, mas a economia vai cobrar a fatura com o fim do torneio, seja o Brasil campeão ou não. E há um nó górdio na economia.
Os brasileiros (pessoa física) estão devendo hoje R$ 1,3 trilhão, segundo dados do Banco Central (BC). Esse valor significa tudo que os brasileiros devem ao sistema financeiro, entre cheque especial, empréstimos consignados, etc. O consignado, aliás, já bateu em R$ 235 bilhões. O nó da economia, portanto, é o nó que está no pescoço dos endividados.
Olhando os números de forma fria, pode-se dizer que a taxa de endividamento na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de mais de R$ 2 trilhões, ainda não assusta. Mas quem está com a corda no pescoço sabe onde o calo dói. E é sempre bom lembrar que 55 milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça por não conseguirem honrar suas dívidas. Quando empresas acumulam dívidas, o governo lança Refis para ajudar no pagamento. Os consumidores brasileiros, pessoa física, estão precisando de um grande Refis.
O fato é que o modelo de crescimento impulsionado nos últimos anos por crédito fácil e consumo esgotou-se. Ele foi importante, mas deveria vir acompanhado de outras medidas que foram deixadas de lado. O resultado, todo mundo já sabe: o país está parado. O crescimento econômico desse ano, segundo as previsões mais otimistas, chegará a 1% - ou menos. A indústria automobilística já está demitindo. Outros setores industriais, espremidos por uma carga tributária hexacampeã, também estão parando. O que segura a economia, neste momento, é a agricultura e a exportação de commodities, como minério de ferro e grãos.
Endividado e com receio de desemprego, o consumidor fica desconfiado e para de comprar. E vê a inflação, domada há 20 anos pelo Plano Real - e ressuscitada agora - , corroer seu salário dia a dia. O remédio é amargo: o BC já jogou os juros em 11% ao ano (taxa Selic) para conter consumo e inflação - e seus diretores dizem que, quanto menos consumo, melhor. É a confissão oficial de que o modelo atual está esgotado. Sem consumo, o comércio se retrai e a indústria, que já está parada, cancela investimentos. Este é, resumidamente, o cenário com o qual os candidatos ao Palácio do Planalto (a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) terão de lidar.
A campanha está começando agora e ainda não surgiram propostas para desatar o nó górdio da economia. Não se sabe, por exemplo, se a proposta da presidente Dilma é manter o modelo atual ou mudar alguma coisa - se a opção for por mudança, ela já poderia ter começado a fazê-las, já que está na cadeira de presidente e tem a caneta na mão. Aécio fala em repetir o choque de gestão mineiro e reduzir ministérios e gastos da máquina pública, além de reforma tributária. Campos ainda é uma incógnita.
O que se sabe é que o fim de 2014 e os primeiros meses de 2015 serão particularmente duros. O quadro de incertezas deverá perdurar até lá, bem como a estagnação da economia com inflação em alta - o pior dos mundos. O novo presidente, seja quem for, terá de tomar medidas fortes para desatar o nó górdio da economia. Terá de ser duro com a inflação e com gastos desnecessários, como os quase 40 ministérios atuais, criados para abrigar aliados políticos. Terá de definir a nova política para o salário mínimo e ter vontade política para uma ampla reforma tributária, que dê à indústria nacional condições de competir em pé de igualdade com os concorrentes estrangeiros. Hoje, a indústria brasileira só é competitiva na América do Sul - e, mesmo assim, nosso principal parceiro comercial, a Argentina, está quebrada.
Precisamos de um Alexandre, o Grande, para desatar esse nó.
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