Não é segredo para ninguém que a presidente Dilma Rousseff (PT) vem apresentando problemas de popularidade nas últimas semanas. A avaliação de seu governo junto à população está em queda. Se isso vai ou não comprometer seu desempenho na luta pela reeleição em outubro, é cedo para dizer. Mas o fato é que Dilma perdeu algumas batalhas importantes nos últimos meses.
Dilma perdeu a batalha pelo mercado financeiro. Não pensem que se trata de uma bobagem elitista. O mercado financeiro, que movimenta trilhões de dólares ao redor do mundo todos os dias, tem interesses pesados no Brasil. Ele não é uma figura retórica. Tem centenas de olhos, milhares de ouvidos, milhões de mãos. Tem engrenagens sofisticadas e perversas, quando necessário. Joga sujo quando quer. E tem, acima de tudo, aversão a riscos e mudanças de regras no meio do jogo. E, sim, tem capacidade para influir na vida de um país e de seus cidadãos.
Lula sabia disso. Tanto que nomeou um banqueiro de renome e atuação internacional, Henrique Meirelles, como presidente do Banco Central (BC). Colocou um conciliador no Ministério da Fazenda, Antonio Palocci. Foi um sinal, um aceno de paz, ao mercado. Um recado sinalizando que regras não seriam quebradas. Funcionou, mesmo na crise global de 2008. O mercado está cheio de tubarões. É necessário ter tubarões ao seu lado para lidar com o mercado.
Dilma ignorou o mercado. Deixou um economista desacreditado, Guido Mantega, no posto de ministro da Fazenda. Não há nada pior do que deixar um nome sem credibilidade no mercado ocupando o cargo que Mantega ocupa. Mantega não é um tubarão. É uma foca. As coisas pioraram quando o governo, pelas mãos da equipe de Mantega, inventou a tal contabilidade criativa para maquiar a piora das contas públicas. Depois, interviu fortemente no setor de energia, obrigando empresas de eletricidade a engolir regras que não estavam no jogo, assim como ainda hoje obriga a Petrobras a manter o preço da gasolina engessado. O mercado não é burro. Percebeu as manobras e disseminou a desconfiança no futuro da economia. E, meu amigo, eu lhe digo uma coisa: boa parte do bom andamento da economia depende do sentimento de confiança de empresas e cidadãos.
Confiança é um bem raro. Quando se quebra, resta tentar juntar os cacos. A situação macroeconômica do Brasil hoje não é um desastre. Mas o sentimento de confiança de empresas, que estão freando investimentos, e da população, que freou o consumo, não é dos melhores. O resultado pode ser visto na queda dos números de novos empregos e no aumento da inflação (se as pessoas e empresas acham que a inflação vai aumentar, ela aumenta; e o mercado tem dito ao país que a inflação vai aumentar).
O que fazer? Uma mudança no Ministério da Fazenda, com a saída de Mantega e a entrada de alguém que ainda tem diálogo com o mercado, como o presidente do BC, Alexandre Tombini, seria um sinal de que a presidente gostaria de abrir um canal de comunicação. Mas Dilma fará isso? Só se a situação se deteriorar muito. E Tombini que se vire para segurar a inflação, elevando os juros às alturas. Dilma tem um estilo durão, pouco afeito a críticas e mudanças. Um ex-presidente da Eletrobras revelou certa vez que a atendeu ao telefone (Dilma era ainda ministra de Minas e Energia) para falar de uma determinação, imposta por ela, que ainda não havia sido cumprida. Recebeu, como resposta, palavras de baixo calão.
Eis aí a outra batalha perdida por Dilma: a da comunicação.
A presidente não se comunica bem com o mercado, nem com sua base aliada, nem com seu partido, nem com o Congresso Nacional, nem com a população. Isso poderia ser amenizado se ela se cercasse de gente competente, interlocutores capazes de ouvir reivindicações e responder à altura. Mas alguns dos assessores e ex-assessores de Dilma, como Gleisi Hoffmann e Ideli Salvati, mal têm cacife para ser assessoras de vereador. E há que se lembrar que na "base aliada" está o PMDB que, tal como um cachorro raivoso, mostra os dentes sempre que se sente prejudicado.
Dilma também perdeu a batalha das ruas. Teve uma chance de ouro nas mãos durante as manifestações de junho do ano passado para mostrar que seu governo tinha condições de atender o que a população pedia: serviços públicos de qualidade e o fim da corrupção. Mas preferiu falar em pactos e torcer para que a coisa esfriasse. Fez uma leitura completamente equivocada do cenário político e social. O pacto morreu. E a coisa não esfriou. Está latente na sociedade, à espera de uma faísca para pegar fogo. Para piorar, vieram escândalos envolvendo a Petrobras e a própria Dilma, então presidente do conselho da estatal quando da compra desastrada da refinaria de Pasadena.
É difícil prever onde tudo isso vai parar. A Copa está aí e logo depois virão as eleições. É bastante provável que a Copa traga junto novas manifestações populares e batalhas nas ruas. A inflação continua subindo, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores. Há muita insatisfação em vários setores cruciais da sociedade. Os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), estão subindo nas pesquisas, mostrando a real possibilidade de segundo turno. A militância do PT não morre de amores por Dilma.
A presidente será capaz de virar o jogo, após vários pontes derrubadas?
Crédito da foto: acritica.uol.com.br
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