Há batalhas para todos os gostos na próxima campanha eleitoral, tanto para Presidência da República como para governos estaduais.
No caso da presidência, a batalha mais feroz será a que a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, terá de travar contra o esfriamento da economia.
Ontem, o Banco Central (BC), autoridade monetária do país, praticamente jogou a toalha na luta contra a inflação.
O que disse o BC? Que o Brasil crescerá apenas 1,6% este ano, e que a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial do país - vai romper o teto da meta (que é de 6,5% ao ano), chegando a 6,6%, mesmo com a taxa Selic (taxa básica de juros do país) em dois dígitos (11%). A meta de inflação não estourava desde 2003.
Mas o recado do BC foi mais duro. Na verdade, a aposta da autoridade monetária para domar a inflação é que, com juros altos, a economia realmente esfrie - e, aí, os preços cairão. Na avaliação do BC, portanto, o que temos é uma inflação por demanda - ou seja, os preços estão altos porque as pessoas estão comprando muito. O curioso é que foi o próprio governo que estimulou o consumo desenfreado, principalmente ao reduzir impostos de automóveis e eletrodomésticos. "Quanto menos as pessoas consumirem, mais os preços cairão", disse ontem, didaticamente e com todas as letras, o diretor de Política Econômica do BC, Hamilton Araújo. Seria interessante saber o que a presidente Dilma achou de tal comentário em pleno ano eleitoral.
Temos, então, o seguinte quadro na economia: o governo estimulou o consumo para aquecer a economia, mas não formulou qualquer política industrial. Arrochada por impostos e juros altos, a indústria brasileira perdeu competitividade e não consegue vender nem no mercado interno, que vem sendo abastecido por produtos importados (até aço colombiano já está chegando aqui) e nem no exterior. O resultado foi um rombo externo recorde em maio. Na outra ponta, o consumidor sequer precisava de juros altos para parar de consumir. Ele endividou-se tanto nos últimos anos, estimulado por bancos e políticas oficiais de crédito, que a corda apertou no pescoço. Cinquenta e cinco milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça. E, mesmo com todo o esforço do BC, a inflação continuará alta. Segundo estimativas do próprio BC, se tudo der certo, a inflação estará rodando em 5,1% ao ano em.... 2016. Sim, o PT ressuscitou a inflação, que, por si, representa um arrocho no salário do trabalhador, e deu munição para que o BC tomasse (como tomou) medidas duras e amargas para esfriar uma economia que já estava morna. É o presente, e não o passado, que assusta.
O que fazer num cenário como esse? Para derrubar a inflação, o principal é cortar gastos da inchada máquina administrativa, com quase 40 ministérios para abrigar partidos aliados. São os gastos do governo, que não param de crescer, que pressionam a inflação. É necessário também dar competitividade à indústria brasileira, principalmente na questão tributária e de infraestrutura. Os empresários brasileiros já cansaram de dizer que não querem privilégios. Querem apenas ter as mesmas condições das indústrias de outros países para competir.
Por que cargas d'água o aço colombiano está mais competitivo no mercado brasileiro do que o aço produzido no Brasil? Impostos. E porque os impostos no Brasil são tão altos? Para bancar a máquina administrativa. É um nó górdio. A campanha de Dilma terá que dar algumas respostas a esses nós, a todos nós.
No outro canto do ringue, a oposição terá que convencer o eleitor que tem as respostas de que o país precisa para continuar avançando. Mas não se iludam. Não teremos uma batalha racional entre situação e oposição. Teremos uma batalha profundamente emocional, de pele, de alma, onde que o que há a ser conquistado é o coração do eleitor. Ele, o eleitor, está ansioso por confiança e esperança.
O cenário nacional terá reflexos diretos em Minas Gerais, terra de um candidato presidencial. Aqui, Pimenta da Veiga, o candidato do grupo de Aécio, tem um trunfo poderoso nas mãos. Seguindo pesquisas realizadas recentemente (e já divulgadas neste blog), mais de 70% dos mineiros gostam de morar em Minas, o que pode ser interpretado como um sinal de aprovação às últimas administrações estaduais. As batalhas de Pimenta serão tornar-se conhecido entre os eleitores, principalmente os mais jovens, que até então nunca haviam ouvido falar em seu nome, e traduzir essa satisfação dos mineiros em votos. Para isso, precisará de todo o apoio do grupo político de Aécio, já que ele mesmo, Pimenta, há anos abandonou a política e o próprio estado, ao fixar residência em Brasília.
As batalhas de Fernando Pimentel, o candidato do PT, serão outras. Como ex-prefeito de BH e ex-ministro de Dilma, Pimentel é um nome conhecido na maior parte do estado. Está na frente nas pesquisas eleitorais. É um bom administrador, como mostrou em BH. Mas a companheira Dilma deixou de cumprir uma série de promessas feitas aos mineiros, principalmente em obras de infraestrutura. Não há em Minas uma única grande obra que possa ser creditada ao governo federal - ao contrário de outros estados aliados do PT. Isso já está sendo utilizado como uma arma contra o petista nas propagandas eleitorais.
Pimentel terá também de unir o PT e mobilizar a militância, além de evitar polêmicas públicas como os recentes elogios ao ex-governador Newton Cardoso (PMDB), que sofre de forte rejeição em alguns colégios eleitorais importantes do estado, como Belo Horizonte - elogios que também já estão sendo utilizados contra ele nas propagandas eleitorais. Parece que ainda falta ao petista um bom estrategista político.
As batalhas estão apenas começando. Muito sangue vai rolar ainda.
Crédito da foto: Os 300 de Esparta, desenho de Frank Miller, editora Abril
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