A última pesquisa da Vox Populi sobre as eleições estaduais, realizada em maio, que apontaram índice de intenção de voto de 29% em Fernando Pimentel (PT) e de 16% para Pimenta da Veiga (PSDB), tem alguns dados interessantes, que mostram forças e fraquezas dos dois pré-candidatos ao governo de Minas.
A região onde Pimentel é mais forte é a classificada na pesquisa como Noroeste/Norte de Minas, onde o petista alcança 38% dos votos. Vale lembrar que trata-se de uma região onde a força do Bolsa Família, principal programa social do governo federal, comandado pela presidente Dilma Rousseff (PT), é mais visível. Não por acaso, é a região onde Pimenta é mais fraco, com 12% das intenções de voto. Em contrapartida, o pré-candidato do PT é fraco no Sul/Sudoeste, região desenvolvida, onde o Bolsa Família não provoca tanto impacto. E é ali que Pimenta da Veiga é mais forte, com 21% das intenções de voto.
Na Grande BH, Pimentel alcança 34% das intenções de voto, ante 13% de Pimenta. Na capital, o petista fica com 32%, ante 17% do tucano. Estão aí dois trunfos de Pimentel: a força do Bolsa Família e o recall de seu nome junto ao eleitorado da Grande BH.
A pesquisa mostra que Pimenta da Veiga também terá que lidar com outro fator perigoso: dos 16% que afirmam que pretendem votar no tucano, apenas 9% são compostos por jovens. Adultos somam 18% e maduros, 24%. A relação é inversa com Pimentel: dos 29% que pretendem votar no pré-candidato do PT, 32% são formados por jovens. Adultos respondem por 28%, e maduros, por 26%. Pimenta terá que descobrir uma fórmula para penetrar no público jovem, capaz de decidir uma eleição.
Mas a pesquisa também traz um dado que pode ser um trunfo para o tucano: 72% dos entrevistados disseram estar satisfeitos por morar em Minas Gerais. É um índice significativo. O tucano terá de descobrir como capitalizar, para si, esse dado.
Outros dados curiosos: quando Júlio Delgado (PSB) entra na pesquisa, tanto Pimenta quanto Pimentel perdem um ponto percentual das intenções de voto.
No quesito rejeição, o petista lidera, com 9%. Pimenta fica com 6%.
A força do Bolsa Família também aparece na eleição presidencial. Embora Aécio lidere em Minas, com 43% das intenções de voto ante 31% da presidente Dilma, o tucano perde para a petista no Noroeste/Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. No Norte/Noroeste, a diferença é grande: 55% a 26% para a presidente. No Jequitinhonha, o "placar" é de 44% a 37%.
Quem está tranquilo em todo esse cenário é o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB). Ele tem 56% das intenções de voto para o Senado. Reina soberano na disputa. O empresário Josué Gomes da Silva (PMDB), filho do ex-vice-presidente José Alencar, tem 10%.
Como se sabe, pesquisas são apenas um retrato do momento político - e a campanha ainda nem começou. Mas saber quais são os pontos fracos e fortes é sempre importante para colocar o barco no rumo certo.
E, por falar em eleição, o governador Alberto Pinto Coelho (PP), ligado ao grupo político de Aécio, continua com agenda de candidato.
sábado, 31 de maio de 2014
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Ainda há mais para ser roubado
Joana Havelange (foto), neta de João Havelange e filha de Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF) e integrante do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo, disse, numa rede social, que o que tinha que ser "roubado" na organização da Copa "já foi gasto, roubado". E que ela vai, a partir de agora, torcer pelo sucesso da Copa no Brasil, e do Brasil na Copa.
Não, Joana. Há mais a ser roubado no Brasil. Uma licitação aqui, outra acolá. Uma obra cheia de aditivos que, estimada em milhões, vira bilhões. Um negócio mal feito no exterior, que dá bilhões de prejuízos a uma estatal que é dos brasileiros. A verba da merenda escolar. Um estádio inteiro para um time de futebol. Licitações fraudulentas na saúde. Obras de infraestrutura que viram ralo de dinheiro público. Tráfico de influência. A esperança do povo brasileiro num país ético e justo. Sim, sempre há mais o que roubar. Esse é um país generoso.
Não, Joana. Há mais a ser roubado no Brasil. Uma licitação aqui, outra acolá. Uma obra cheia de aditivos que, estimada em milhões, vira bilhões. Um negócio mal feito no exterior, que dá bilhões de prejuízos a uma estatal que é dos brasileiros. A verba da merenda escolar. Um estádio inteiro para um time de futebol. Licitações fraudulentas na saúde. Obras de infraestrutura que viram ralo de dinheiro público. Tráfico de influência. A esperança do povo brasileiro num país ético e justo. Sim, sempre há mais o que roubar. Esse é um país generoso.
terça-feira, 27 de maio de 2014
Construindo Pimenta
A propaganda eleitoral que foi ao ar recentemente do Partido Progressista (PP), que em Minas apoia o PSDB e, em Brasília, o Palácio do Planalto, deixa clara a tarefa prioritária e primordial dos coordenadores da campanha de Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo do estado: construir a imagem do candidato.
Uma das missões da propaganda, claramente, é mostrar para o eleitor que Pimenta da Veiga faz parte do grupo político do senador Aécio Neves (pré-candidato do PSDB à presidência da República), do ex-governador Antonio Anastasia (candidato ao Senado), do presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro (vice na chapa de Pimenta) e do atual governador, Alberto Pinto Coelho (PP). Ou seja, a missão da campanha, nesta etapa, é colocar um pedigree em Pimenta, que, após ser ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afastou-se da política e do eleitorado. É identificar Pimenta como integrante do grupo aecista, que controla Minas Gerais há mais de uma década. É mostrar que Pimenta não é apenas um "poste", um nome surgido do nada, embora seu recall com o eleitor esteja bastante defasado.
É a esse grupo que Pimenta deve os 16% das intenções de voto segundo pesquisa Vox Populi divulgada ontem, ante os 29% do oponente, Fernando Pimentel, do PT.
Ainda tem água demais para correr sob essa ponte. O grupo de Aécio precisa intensificar a consolidação da imagem de Pimenta, tarefa que se estenderá campanha adentro. Os 16% que declararam intenção de voto no tucano estão simplesmente ressaltando apoio ao grupo que está no poder em Minas há tanto tempo. Sozinho, o nome "Pimenta da Veiga" não significa muito para a maior parte do eleitorado. Mas infla quando é associado a Aécio, Anastasia, Dinis e Alberto, como faz a propaganda do PP.
A tarefa de Pimentel é menos difícil. Além de ter o recall de sua recente administração de Belo Horizonte (bem avaliada), ele foi, até pouco tempo, ministro do Desenvolvimento do governo Dilma. Mas aí também pode residir uma armadilha para o petista: o governo Dilma não foi exatamente uma benção para Minas Gerais. Obras sempre prometidas, como metrô, Anel Rodoviário e duplicação da 381 ainda não saíram do papel. Por mais que Dilma distribua tratores a prefeitos, seu governo (e o do presidente Lula) deixaram a desejar em relação a Minas, embora tenham sido pródigos e generosos com governos de estados aliados.
Que o digam o Rio de Janeiro e Pernambuco (hoje, o governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, integra a oposição e é também pré-candidato à Presidência). A boa avaliação de Campos em Pernambuco deve-se, em grande parte, à mão amiga do ex-presidente Lula: o estado ganhou uma refinaria da Petrobras (aliás, em outro aparente de "erro" da estatal, já que a obra está saindo por um preço bem mais alto que o original), um porto moderno e uma parte da Fiat Automóveis - essa, num último gesto de bondade de Lula, já no apagar das luzes de seu governo, e que irritou profundamente o tucanato mineiro.
Pimentel também está preso em outro nó: não pode bater demais no PSDB, já que aliou-se a Aécio Neves na eleição do prefeito de BH, Márcio Lacerda. É sempre complicado explicar ao eleitor porque o amigo de antes virou o adversário de agora. E, cá entre nós, sua foto ao lado do ex-governador Newton Cardoso (PMDB), divulgada nas redes sociais nos últimos dias, também não ajuda muito. Erro estratégico de campanha, com impacto ainda desconhecido.
A diferença entre Pimentel e Pimenta na pesquisa ainda é grande - o petista tem praticamente o dobro. E teremos uma campanha curta, já que a Copa do Mundo monopolizará as atenções dos brasileiros (para o bem e para o mal) até meados de julho.
É certo que Pimenta ainda vai crescer. Tem apresentado um discurso mais agressivo em relação ao PT e está ao lado de um grupo bem avaliado pelos mineiros. Pimentel precisa ajustar seu foco, evitar erros desnecessários e fugir das arapucas tucanas e das trapalhadas do governo Dilma, principalmente no campo econômico. Será uma campanha nacionalizada, já que é de Minas o principal candidato das oposições ao Palácio do Planalto. Será uma campanha de padrinhos: Pimenta tem Aécio; Pimentel, Lula e Dilma. Os dois pré-candidatos têm grandes desafios à frente.
Uma das missões da propaganda, claramente, é mostrar para o eleitor que Pimenta da Veiga faz parte do grupo político do senador Aécio Neves (pré-candidato do PSDB à presidência da República), do ex-governador Antonio Anastasia (candidato ao Senado), do presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro (vice na chapa de Pimenta) e do atual governador, Alberto Pinto Coelho (PP). Ou seja, a missão da campanha, nesta etapa, é colocar um pedigree em Pimenta, que, após ser ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afastou-se da política e do eleitorado. É identificar Pimenta como integrante do grupo aecista, que controla Minas Gerais há mais de uma década. É mostrar que Pimenta não é apenas um "poste", um nome surgido do nada, embora seu recall com o eleitor esteja bastante defasado.
É a esse grupo que Pimenta deve os 16% das intenções de voto segundo pesquisa Vox Populi divulgada ontem, ante os 29% do oponente, Fernando Pimentel, do PT.
Ainda tem água demais para correr sob essa ponte. O grupo de Aécio precisa intensificar a consolidação da imagem de Pimenta, tarefa que se estenderá campanha adentro. Os 16% que declararam intenção de voto no tucano estão simplesmente ressaltando apoio ao grupo que está no poder em Minas há tanto tempo. Sozinho, o nome "Pimenta da Veiga" não significa muito para a maior parte do eleitorado. Mas infla quando é associado a Aécio, Anastasia, Dinis e Alberto, como faz a propaganda do PP.
A tarefa de Pimentel é menos difícil. Além de ter o recall de sua recente administração de Belo Horizonte (bem avaliada), ele foi, até pouco tempo, ministro do Desenvolvimento do governo Dilma. Mas aí também pode residir uma armadilha para o petista: o governo Dilma não foi exatamente uma benção para Minas Gerais. Obras sempre prometidas, como metrô, Anel Rodoviário e duplicação da 381 ainda não saíram do papel. Por mais que Dilma distribua tratores a prefeitos, seu governo (e o do presidente Lula) deixaram a desejar em relação a Minas, embora tenham sido pródigos e generosos com governos de estados aliados.
Que o digam o Rio de Janeiro e Pernambuco (hoje, o governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, integra a oposição e é também pré-candidato à Presidência). A boa avaliação de Campos em Pernambuco deve-se, em grande parte, à mão amiga do ex-presidente Lula: o estado ganhou uma refinaria da Petrobras (aliás, em outro aparente de "erro" da estatal, já que a obra está saindo por um preço bem mais alto que o original), um porto moderno e uma parte da Fiat Automóveis - essa, num último gesto de bondade de Lula, já no apagar das luzes de seu governo, e que irritou profundamente o tucanato mineiro.
Pimentel também está preso em outro nó: não pode bater demais no PSDB, já que aliou-se a Aécio Neves na eleição do prefeito de BH, Márcio Lacerda. É sempre complicado explicar ao eleitor porque o amigo de antes virou o adversário de agora. E, cá entre nós, sua foto ao lado do ex-governador Newton Cardoso (PMDB), divulgada nas redes sociais nos últimos dias, também não ajuda muito. Erro estratégico de campanha, com impacto ainda desconhecido.
A diferença entre Pimentel e Pimenta na pesquisa ainda é grande - o petista tem praticamente o dobro. E teremos uma campanha curta, já que a Copa do Mundo monopolizará as atenções dos brasileiros (para o bem e para o mal) até meados de julho.
É certo que Pimenta ainda vai crescer. Tem apresentado um discurso mais agressivo em relação ao PT e está ao lado de um grupo bem avaliado pelos mineiros. Pimentel precisa ajustar seu foco, evitar erros desnecessários e fugir das arapucas tucanas e das trapalhadas do governo Dilma, principalmente no campo econômico. Será uma campanha nacionalizada, já que é de Minas o principal candidato das oposições ao Palácio do Planalto. Será uma campanha de padrinhos: Pimenta tem Aécio; Pimentel, Lula e Dilma. Os dois pré-candidatos têm grandes desafios à frente.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
O "fantasma" apareceu
O "fantasma" do passado, também conhecido como possível retrocesso econômico, levado ao ar em recentes propagandas eleitorais do PT, já bateu na porta dos brasileiros. Ironicamente, a culpa é do próprio governo do PT. Matéria publicada em O Globo mostra que, segundo pesquisa do instituto Data Popular (realizada a pedido do jornal), a inflação já devorou, nos últimos 12 meses, R$ 73,4 bilhões da recém-formada classe média brasileira, a classe C, que tem vencimentos mensais entre R$ 1,2 a R$ 4,2 mil. Ou seja, a alta dos preços (ou a perda do poder aquisitivo da moeda, que é a inflação) já corroeu em um ano R$ 73,4 bilhões da nova classe média, que mal provou o gostinho de ser classe média. Para a Corretora Gradual, das 108 milhões de pessoas que compõem a classe C, cerca de 10 milhões já estão na porta para retornar à classe D.
Alguma surpresa nisso? Não. Por que? Porquê todo mundo sabe que é isso que faz a inflação: ela corrói o poder aquisitivo das pessoas, principalmente da classe média e dos mais pobres. A inflação é perversa com a economia e ainda mais perversa com as camadas sociais mais baixas, que não têm como aplicar dinheiro em investimentos para proteger-se da inflação, como fazem as camadas mais altas.
Por que a inflação está alta? Um dos motivos é o excesso de gastos do governo - ou gastos ineficientes. Como o governo gasta muito, precisa se endividar e lançar papéis no mercado. Para isso, é obrigado a emitir mais dinheiro. E isso gera inflação.
O governo brasileiro tem gastado muito com uma máquina administrativa pesada, gorda e profundamente ineficiente. E, do ponto de vista ideológico, acredita que um pouco de inflação não faz mal a ninguém. Que é melhor crescer com inflação do que não crescer nada. Bom, o Data Popular está mostrando que inflação faz mal - e muito. E, pior: o Brasil não está crescendo (a perspectiva para esse ano é de um aumento de 1,5% do Produto Interno Bruto-PIB). Ou seja: o país não está crescendo, parou de gerar empregos qualificados e a inflação alta está empurrando a classe C de volta para a D.
Como tudo que é ruim pode piorar, o Banco Central (BC) deve elevar os juros novamente na reunião do Copom essa semana para tentar combater a inflação. Juro alto é um remédio amargo contra a inflação, que poderia ser evitado se o governo controlasse seus gastos. Teremos então um quadro de juros altos, inflação ainda alta, economia com crescimento pífio, consumidores, investidores e empresários desconfiados e sem vontade de gastar ou investir. Ainda não é o fim do mundo, mas é um quadro complicado.
Não se brinca com inflação. Quem viveu nos anos 1980 lembra como era ter uma inflação de 80% ao mês (é isso mesmo, 80% ao mês). Sucessivos planos econômicos para controlar a inflação geraram perdas e dor na população (quem não se lembra de pessoas se suicidando no Plano Collor, que confiscou a poupança?). E fracassaram. Até que um mineiro, o presidente Itamar Franco, lançou o Plano Real há exatos 20 anos, controlando, por fim, o fantasma inflacionário. Que agora, aos poucos, está voltando.
O Brasil vive um momento singular. O país está em transe. Uma nova classe média, que sentiu o gostinho do consumo, pode ter de voltar para o andar de baixo. Esse, sim, é o fantasma real do país. Esse é o fantasma que cabe ao governo combater. Mas tudo ficará mais difícil se, ao invés de tomar medidas reais para colocar o fantasma de volta na geladeira, o governo preferir continuar brincando de inflação e de fantasmas imaginários.
Há um bonde da história passando nesse exato momento na economia global. A Europa começa a se recuperar da crise que a abateu em 2008. Os Estados Unidos estão em recuperação e apostam em novas energias (como o gás de xisto), inovação e pesquisas. A Índia, que sempre se mostrou ao mundo com a face da miséria, tem agora um rosto marcado pela excelência tecnológica. Alguns dos grandes empreendedores do mundo (como a Mittal, maior grupo siderúrgico do mundo, que no Brasil comprou a Belgo-Mineira) estão lá. O "Vale do Silício" indiano tem revelado nomes importantes para a inovação tecnológica. A Coréia do Sul deixou uma situação econômica semelhante à do Brasil há algumas décadas e investiu em educação de qualidade. Hoje, é uma potência em tecnologia.
E o Brasil? Onde vamos entrar nesse bonde? Vamos continuar implorando aos chineses que tragam dinheiro para cá para investir em infraestrutura? Vamos entrar mesmo no bonde? Ou vamos continuar caçando fantasmas?
Alguma surpresa nisso? Não. Por que? Porquê todo mundo sabe que é isso que faz a inflação: ela corrói o poder aquisitivo das pessoas, principalmente da classe média e dos mais pobres. A inflação é perversa com a economia e ainda mais perversa com as camadas sociais mais baixas, que não têm como aplicar dinheiro em investimentos para proteger-se da inflação, como fazem as camadas mais altas.
Por que a inflação está alta? Um dos motivos é o excesso de gastos do governo - ou gastos ineficientes. Como o governo gasta muito, precisa se endividar e lançar papéis no mercado. Para isso, é obrigado a emitir mais dinheiro. E isso gera inflação.
O governo brasileiro tem gastado muito com uma máquina administrativa pesada, gorda e profundamente ineficiente. E, do ponto de vista ideológico, acredita que um pouco de inflação não faz mal a ninguém. Que é melhor crescer com inflação do que não crescer nada. Bom, o Data Popular está mostrando que inflação faz mal - e muito. E, pior: o Brasil não está crescendo (a perspectiva para esse ano é de um aumento de 1,5% do Produto Interno Bruto-PIB). Ou seja: o país não está crescendo, parou de gerar empregos qualificados e a inflação alta está empurrando a classe C de volta para a D.
Como tudo que é ruim pode piorar, o Banco Central (BC) deve elevar os juros novamente na reunião do Copom essa semana para tentar combater a inflação. Juro alto é um remédio amargo contra a inflação, que poderia ser evitado se o governo controlasse seus gastos. Teremos então um quadro de juros altos, inflação ainda alta, economia com crescimento pífio, consumidores, investidores e empresários desconfiados e sem vontade de gastar ou investir. Ainda não é o fim do mundo, mas é um quadro complicado.
Não se brinca com inflação. Quem viveu nos anos 1980 lembra como era ter uma inflação de 80% ao mês (é isso mesmo, 80% ao mês). Sucessivos planos econômicos para controlar a inflação geraram perdas e dor na população (quem não se lembra de pessoas se suicidando no Plano Collor, que confiscou a poupança?). E fracassaram. Até que um mineiro, o presidente Itamar Franco, lançou o Plano Real há exatos 20 anos, controlando, por fim, o fantasma inflacionário. Que agora, aos poucos, está voltando.
O Brasil vive um momento singular. O país está em transe. Uma nova classe média, que sentiu o gostinho do consumo, pode ter de voltar para o andar de baixo. Esse, sim, é o fantasma real do país. Esse é o fantasma que cabe ao governo combater. Mas tudo ficará mais difícil se, ao invés de tomar medidas reais para colocar o fantasma de volta na geladeira, o governo preferir continuar brincando de inflação e de fantasmas imaginários.
Há um bonde da história passando nesse exato momento na economia global. A Europa começa a se recuperar da crise que a abateu em 2008. Os Estados Unidos estão em recuperação e apostam em novas energias (como o gás de xisto), inovação e pesquisas. A Índia, que sempre se mostrou ao mundo com a face da miséria, tem agora um rosto marcado pela excelência tecnológica. Alguns dos grandes empreendedores do mundo (como a Mittal, maior grupo siderúrgico do mundo, que no Brasil comprou a Belgo-Mineira) estão lá. O "Vale do Silício" indiano tem revelado nomes importantes para a inovação tecnológica. A Coréia do Sul deixou uma situação econômica semelhante à do Brasil há algumas décadas e investiu em educação de qualidade. Hoje, é uma potência em tecnologia.
E o Brasil? Onde vamos entrar nesse bonde? Vamos continuar implorando aos chineses que tragam dinheiro para cá para investir em infraestrutura? Vamos entrar mesmo no bonde? Ou vamos continuar caçando fantasmas?
sexta-feira, 23 de maio de 2014
É a confiança, estúpido!
O Brasil tem indicadores econômico para todos os tipo e gostos. Mas um, em especial, divulgado hoje (23 de maio) mostra um dos motivos pelos quais a economia brasileira está parando. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) recuou
3,3% de abril para maio, ao passar de 106,3 para 102,8 pontos, o menor nível
desde abril de 2009 (99,7). Com tal resultado, o índice manteve-se abaixo da média histórica, de 116,4 pontos, pelo 16º mês
consecutivo.
Segundo a FGV, os consumidores
“continuam pouco satisfeitos com a situação atual e pessimistas em relação aos
rumos da economia nos próximos meses”. O Índice da Situação Atual (ISA) caiur 3,9%, para 107,2 pontos, o menor desde maio de 2009
(103,0). Já o Índice de Expectativas (IE) recuou pelo sexto mês seguido, caindo
2,9%, para 100,6 pontos – também o mais baixo desde março de 2009 (97,6).
A FGV também constatou queda de 3,8% no indicador
que mede o grau de satisfação dos consumidores com a situação financeira
pessoal, que passou de 109,3 para 105,1 pontos – o menor nível
desde agosto de 2009 (104,9). A proporção de consumidores que avaliam a
situação como boa diminuiu de 22,5% para 19,2%, enquanto a dos que a julgam
ruim aumentou de 13,2% para 14,1%.
Ainda segundo a FGV, a
preocupação dos consumidores com o orçamento doméstico se estende para
os próximos meses. “O indicador que mede o grau de otimismo em relação à
situação financeira familiar foi o quesito que mais influenciou a queda do ICC
no mês”, informa a fundação, em nota divulgada à imprensa. Ao cair 3,4%, para 124,7 pontos, o indicador atinge
o menor nível desde fevereiro de 2010 (124). A parcela de consumidores
projetando melhora caiu de 35,6% para 32,0%; a dos que preveem piora subiu de
6,5% para 7,3%.
Na prática, esses números reforçam o que vem sendo dito nesse blog. A confiança é uma das principais mola da economia. Existe uma economia calçada em fatos reais, e outra, calçada em perspectivas, sensações, confiança (ou falta de). Há no país uma sensação estranha, como se estivéssemos todos à espera de uma bomba-relógio.
Na eleição presidencial, o candidato que atrair e conquistar a confiança do consumidor (e dos eleitores), que conseguir apresentar um projeto de país viável e melhor - e, com ele, despertar novamente confiança no futuro - ficará bem na fita. O marqueteiro do ex-presidente americano Bill Clinton cunhou uma frase lapidar para explicar o que faz um candidato vencer uma eleição: "É a economia, estúpido". Pode-se dizer que também "é a confiança, estúpido".
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Lanterna na proa
Ela, a confiança, é fundamental para movimentar a roda da fortuna. Um consumidor confiante vai às compras porque sabe que terá como pagar. Um investidor confiante vai ao mercado porque sabe que terá retorno de seu investimento. Um empresário expande sua fábrica porque confia na expansão do mercado. Quando não há confiança, nem consumidores, nem investidores e nem empresários enfiam a mão no bolso. O resultado é que a economia para.
A economia brasileira está parando. Os dados de geração de emprego divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho mostram que tivemos o pior abril em 15 anos, com a geração de 105,4 mil postos de trabalho. Em abril do ano passado, foram 197 mil.
O IPCA-15, também divulgado hoje, mostra que a inflação continua alta. O índice mostrou leve elevação, de 0,58%, em relação ao último levantamento, mas nos últimos 12 meses acumula alta de 6,31%. O consumidor sabe que alguns produtos ou serviços tiveram altas de até 10% nos últimos meses. A inflação corrói o salário e diminui o poder de compra do trabalhador. Com menos dinheiro, compra-se menos e sobe a inadimplência, já que fica mais difícil pagar as dívidas. Analistas acreditam que o Brasil vá crescer apenas 1,5% este ano. É muito pouco para um país de tanto potencial.
A falta de confiança na economia é, sem dúvida, um combustível poderoso neste cenário. Ninguém sabe o que está por vir. Não se vê qualquer movimentação do governo na área econômica. Não há uma política industrial definida para o país. Os produtos importados continuam chegando, desestimulando a indústria nacional. Hoje, compra-se roupas da China diretamente da China, em sites especializados. O preço é menor e o produto chega à sua casa. Setores importantes, como o mercado imobiliário e a indústria automotiva, estão pisando no freio. A GM anunciou férias coletivas hoje. O país está sem lenço e sem documento. Sem rumo. O país está assustado.
Não é segredo para ninguém que o Brasil cresceu nos últimos anos baseado no aumento do salário mínimo e programas sociais, que geraram consumo. Com o consumo, os setores de comércio e serviço aqueceram a economia e geraram empregos. Ok. Esse modelo foi eficiente até mesmo para blindar parcialmente o país da crise mundial de 2008. Mas faltou a segunda parte: investir pesado em infraestrutura, reduzir carga tributária (o brasileiro trabalha quatro meses no ano somente para pagar impostos) e impulsionar a indústria nacional. Resultado: o modelo esgotou-se, as pessoas se endividaram e o país parou de crescer. Para complicar, a inflação voltou.
Pergunte a alguém do governo qual é a política econômica do Brasil. Provavelmente, ninguém saberá responder. Simplesmente porque não existe política econômica. Sem política econômica, as empresas se sentem inseguras para investir. Falta confiança. O capital, que não gosta de riscos, some. Investidores saem do Brasil para aplicar em lugares mais amigáveis. Por incrível que pareça, até o México hoje parece mais atraente para investidores do que o Brasil.
Conclusão: confiança no futuro é capital para a economia. Quando se olha à frente, para as perspectivas do Brasil, ninguém sabe exatamente o que vai aparecer. Temos uma Copa do Mundo que gerou custos elevados (e ainda mal explicados) e cujo legado não será suficiente para compensar os mais de R$ 10 bilhões gastos com estádios. Venderam o paraíso em 2007 e estão entregando um inferno em 2014. A Copa vai fazer a economia parar durante um mês, e provavelmente teremos pesadas manifestações populares. Depois, vem a eleição, e aí nada mais funcionará mesmo - nem Congresso, nem governos.
O Brasil é hoje uma casa desarrumada, cujos habitantes estão desconfiados em relação ao futuro e indignados com a corrupção e ausência de serviços públicos de qualidade. As grandes empresas, como Vale e Petrobras, também frearam investimentos. Estamos num barco sem rumo. Precisamos, com urgência, de uma lanterna na proa.
Crédito da foto: www.forwallpapper.com
terça-feira, 20 de maio de 2014
"Nem parece do PSDB"
Há tempos atrás, quando o deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro, ainda estava no PSDB, ouvi uma expressão curiosa: "Ele é um sujeito popular. Nem parece do PSDB", disse uma fonte do Legislativo, referindo-se ao jeito pop do parlamentar.
De fato, Dinis é pop. É o deputado estadual mais votado de Minas. Foi eleito duas vezes presidente da Assembleia, e tratou de fazer solenidades populares nas duas vezes em que foi empossado. Sua família controla Ibirité, onde elegeu como prefeito um jovem de 21, o Pinheirinho, e está na Câmara Federal, com o deputado Antonio Pinheiro. Dinis Pinheiro tem votos em lugares inimagináveis de Minas. E será agora a grande alavanca da candidatura de Pimenta da Veiga ao governo do estado, como candidato a vice na chapa do tucano. Ah, sim: por conta de arranjos políticos, Dinis não está mais no PSDB. Está agora no PP.
A matemática da chapa é simples: caberá a Dinis angariar votos no interior do estado. Pimenta também participará dessa missão, mas sua principal batalha será pelos eleitores de Belo Horizonte, onde a população ainda tem o recall da administração de seu adversário, o petista Fernando Pimentel. E BH costuma decidir eleições para governador.
Ao definir a chapa estadual, lançada ontem (19/05), o grupo de Aécio Neves deu um passo importante para avançar na campanha. O desafio agora será construir a imagem de Pimenta da Veiga, ausente há anos da política. Pimentel ainda não definiu seu vice e enfrenta incertezas com o principal aliado, o PMDB. Comete um equívoco ao atrelar tão fortemente sua candidatura à da presidente Dilma Rousseff (PT). O fato é que o governo federal petista não deu moleza para a administração do PSDB no estado. Não há nenhuma obra de grande porte feita pelo governo federal em Minas, ao contrário do que ocorreu em outros estados, como Rio de Janeiro e Pernambuco. Até mesmo uma unidade da Fiat foi levada para Pernambuco por influência direta do então presidente Lula (PT).
Nesse aspecto, Pimentel terá mais a lucrar se mostrar sua administração e as obras que, quando prefeito, realizou em BH, principalmente na periferia, além da revitalização do centro da capital. E, assim como Pimenta, terá que fazer um arranjo de chapa que lhe traga votos no interior do estado.
A batalha começou.
Crédito da foto: PSDB/MG
De fato, Dinis é pop. É o deputado estadual mais votado de Minas. Foi eleito duas vezes presidente da Assembleia, e tratou de fazer solenidades populares nas duas vezes em que foi empossado. Sua família controla Ibirité, onde elegeu como prefeito um jovem de 21, o Pinheirinho, e está na Câmara Federal, com o deputado Antonio Pinheiro. Dinis Pinheiro tem votos em lugares inimagináveis de Minas. E será agora a grande alavanca da candidatura de Pimenta da Veiga ao governo do estado, como candidato a vice na chapa do tucano. Ah, sim: por conta de arranjos políticos, Dinis não está mais no PSDB. Está agora no PP.
A matemática da chapa é simples: caberá a Dinis angariar votos no interior do estado. Pimenta também participará dessa missão, mas sua principal batalha será pelos eleitores de Belo Horizonte, onde a população ainda tem o recall da administração de seu adversário, o petista Fernando Pimentel. E BH costuma decidir eleições para governador.
Ao definir a chapa estadual, lançada ontem (19/05), o grupo de Aécio Neves deu um passo importante para avançar na campanha. O desafio agora será construir a imagem de Pimenta da Veiga, ausente há anos da política. Pimentel ainda não definiu seu vice e enfrenta incertezas com o principal aliado, o PMDB. Comete um equívoco ao atrelar tão fortemente sua candidatura à da presidente Dilma Rousseff (PT). O fato é que o governo federal petista não deu moleza para a administração do PSDB no estado. Não há nenhuma obra de grande porte feita pelo governo federal em Minas, ao contrário do que ocorreu em outros estados, como Rio de Janeiro e Pernambuco. Até mesmo uma unidade da Fiat foi levada para Pernambuco por influência direta do então presidente Lula (PT).
Nesse aspecto, Pimentel terá mais a lucrar se mostrar sua administração e as obras que, quando prefeito, realizou em BH, principalmente na periferia, além da revitalização do centro da capital. E, assim como Pimenta, terá que fazer um arranjo de chapa que lhe traga votos no interior do estado.
A batalha começou.
Crédito da foto: PSDB/MG
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Cansaço
Fico olhando as propagandas políticas, o discurso de candidatos, o noticiário do dia. Bate um cansaço. Hoje, mente-se descaradamente na cara do eleitor. Sem pudor, sem vergonha. Continuam fazendo promessas como se falassem a um bando de estúpidos. As eleições, que podem ou não colocar o Brasil de volta ao jogo do século 21, viraram briga de turma. Minha turma é melhor que a sua. Minha turma rouba menos que a sua. Minha turma roubou, mas a sua também. Meus capangas são melhores que os seus. Meu partido é diferente dos outros, embora tenha feito tudo que os outros fazem. Os 500 picaretas viraram doutores.A corrupção se banalizou. Dinheiro na cueca é fichinha. Propinas para Petrobras ou Alston não dão em nada.
Aliás, dão. Além do cansaço, dá um certo medo olhar o que todo esse cenário político está fazendo com o Brasil. Os linchamentos estão se tornando diários. Queimar ônibus é brinquedo de criança. Espancar os outros é tão fácil como um jogo de videogame. Saquear lojas e supermercados está se tornando rotina. Cara, que cansaço. Que tristeza. Que pobreza.
O retrato social do Brasil hoje é o retrato da descrença. O tecido social está se rasgando de forma perigosa. Sim, não é só aqui que isso acontece. Acontece na Turquia, no Egito, aconteceu recentemente na Europa em crise, acontece na África. Mas a Turquia vive uma crise política há décadas. O Egito vive uma guerra. A Europa sofre com a recessão e o desemprego. A África se divide em tribos, ditadores e fanatismo religioso. E aqui?
Aqui não há crise política. A economia não melhora e a inflação está aí, mas estamos longe do inferno. As instituições democráticas funcionam normalmente. O que está acontecendo com o Brasil?
Cansaço. Descrença. Ninguém acredita mais em leis ou nas instituições, como mostraram pesquisas recentes - e que foram citadas aqui mesmo, neste blog. Há um vulcão pronto para explodir no Brasil, e a turma do andar lá de cima e seus capangas continuam discutindo quem roubou mais ou roubou menos. A polícia mata inocentes. Presos degolam rivais enquanto a governadora come caviar. Viramos terra de ninguém. Terra do nunca. Cadê o Peter Pan? Sim, porque o Capitão Gancho já está aqui.
O Brasil está sem referências que consigam dar um norte às pessoas, que defendam valores como ética e dignidade. O andar de baixo viu a baixaria do de cima, achou legal, achou que esse é o jeito certo de fazer as coisas e está entrando na festa. Se eles roubam, nós podemos linchar. Se eles mentem, nós podemos matar. Se eles comem caviar, nós podemos comer abobrinhas e soltar gases com coquetel molotov. "Faça o que quiseres pois é tudo da lei", diria o pobre Raul Seixas, que um dia chegou a pedir a um moço no disco voador que o levasse para longe daqui.
O Brasil precisa de esperança. Precisa se recriar como nação. Precisa acreditar em valores como honestidade, respeito, ética. Tudo isso fica difícil quando as pessoas veem seus dirigentes pisando e cuspindo em tudo isso. Precisamos criar uma elite política que saiba compreender esse cenário e recolocar o país nos trilhos da civilidade. Que contribua para formar cidadãos. E que essa elite transborde bons valores para os brasileiros. Precisamos acreditar que ser corrupto não é a única forma de ganhar dinheiro, que linchar não é justiça, que saquear é crime, que há meios de prosperar mesmo sem ser um craque do futebol, que as leis funcionam para todos, que governar um país não é dividi-lo entre minha turma e sua turma, e que, sim, somos uma nação que pode ser melhor e mais bonita do que esse retrato feio que aparece todos os dias nos jornais.
Quanto tempo mais teremos de esperar para que isso aconteça?
Haverá tempo para isso ou nos destruiremos antes?
Aliás, dão. Além do cansaço, dá um certo medo olhar o que todo esse cenário político está fazendo com o Brasil. Os linchamentos estão se tornando diários. Queimar ônibus é brinquedo de criança. Espancar os outros é tão fácil como um jogo de videogame. Saquear lojas e supermercados está se tornando rotina. Cara, que cansaço. Que tristeza. Que pobreza.
O retrato social do Brasil hoje é o retrato da descrença. O tecido social está se rasgando de forma perigosa. Sim, não é só aqui que isso acontece. Acontece na Turquia, no Egito, aconteceu recentemente na Europa em crise, acontece na África. Mas a Turquia vive uma crise política há décadas. O Egito vive uma guerra. A Europa sofre com a recessão e o desemprego. A África se divide em tribos, ditadores e fanatismo religioso. E aqui?
Aqui não há crise política. A economia não melhora e a inflação está aí, mas estamos longe do inferno. As instituições democráticas funcionam normalmente. O que está acontecendo com o Brasil?
Cansaço. Descrença. Ninguém acredita mais em leis ou nas instituições, como mostraram pesquisas recentes - e que foram citadas aqui mesmo, neste blog. Há um vulcão pronto para explodir no Brasil, e a turma do andar lá de cima e seus capangas continuam discutindo quem roubou mais ou roubou menos. A polícia mata inocentes. Presos degolam rivais enquanto a governadora come caviar. Viramos terra de ninguém. Terra do nunca. Cadê o Peter Pan? Sim, porque o Capitão Gancho já está aqui.
O Brasil está sem referências que consigam dar um norte às pessoas, que defendam valores como ética e dignidade. O andar de baixo viu a baixaria do de cima, achou legal, achou que esse é o jeito certo de fazer as coisas e está entrando na festa. Se eles roubam, nós podemos linchar. Se eles mentem, nós podemos matar. Se eles comem caviar, nós podemos comer abobrinhas e soltar gases com coquetel molotov. "Faça o que quiseres pois é tudo da lei", diria o pobre Raul Seixas, que um dia chegou a pedir a um moço no disco voador que o levasse para longe daqui.
O Brasil precisa de esperança. Precisa se recriar como nação. Precisa acreditar em valores como honestidade, respeito, ética. Tudo isso fica difícil quando as pessoas veem seus dirigentes pisando e cuspindo em tudo isso. Precisamos criar uma elite política que saiba compreender esse cenário e recolocar o país nos trilhos da civilidade. Que contribua para formar cidadãos. E que essa elite transborde bons valores para os brasileiros. Precisamos acreditar que ser corrupto não é a única forma de ganhar dinheiro, que linchar não é justiça, que saquear é crime, que há meios de prosperar mesmo sem ser um craque do futebol, que as leis funcionam para todos, que governar um país não é dividi-lo entre minha turma e sua turma, e que, sim, somos uma nação que pode ser melhor e mais bonita do que esse retrato feio que aparece todos os dias nos jornais.
Quanto tempo mais teremos de esperar para que isso aconteça?
Haverá tempo para isso ou nos destruiremos antes?
quinta-feira, 15 de maio de 2014
As arapucas da campanha
As campanhas eleitorais, tanto para presidente quanto para governadores, estão começando cheias de arapucas, para todos os lados e todos os gostos. Promete ser pesada.
Na campanha presidencial, o PT está ressuscitando a velha luta de classes para tentar deter o avanço da oposição, representada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo governador Eduardo Campos (PSB-PE).
A ideia é mostrar que o partido governa para os pobres e é pai e mãe de todos os programas sociais do país, principalmente do Bolsa Família - e que uma eventual vitória da oposição na eleição pode favorecer os ricos, os bem-nascidos, e enterrar tudo que foi conquistado até agora. É uma arapuca da qual o próprio PT pode ser vítima.
Se ficar refém apenas desse discurso, o PT não terá argumentos para penetrar e conquistar votos em outros setores da pirâmide social - e mesmo as camadas mais baixas já estão mostrando insatisfação com os gastos bilionários da Copa do Mundo e a péssima qualidade dos serviços públicos, como saúde, educação e segurança. Os índices de rejeição da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, mostram que esse discurso é insuficiente para garantir a vitória em outubro. E, se a inflação sair mesmo de controle, vai corroer parte dos ganhos das políticas sociais. Críticas e escândalos políticos não "colavam" em Lula. Mas Dilma não é Lula.
O discurso da luta de classe pode também afugentar investimentos e investidores, parando de vez uma economia que já está com o pé no freio, minando a confiança no futuro e reduzindo o número de empregos - um dos trunfos do PT. Além do mais, Aécio já protocolou no Senado projeto de lei que torna o Bolsa Família um programa de Estado, e não de um governo. Ou seja, um programa vitalício. É bom lembrar que o Bolsa Família foi a união de vários programas de proteção social que já haviam sido lançados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Por outro lado, o PT perdeu uma bandeira: a desestatização promovida no governo de FHC, criticada duramente pelo partido até hoje. Ciente de que o atual governo não teria recursos para tocar programas de infraestrutura, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tratou de jogar estradas, ferrovias e aeroportos nas mãos da iniciativa privada. Traduzindo: uma bandeira da eleição passada, que mostrou-se eficiente para os petistas, pode virar uma arapuca agora para ser usada pela oposição. O partido terá que encontrar um discurso convincente para lidar com essas questões.
Já a estratégia de Aécio vem sendo a de bater forte no governo. Há também uma arapuca aí: as parcelas da população que foram beneficiadas por programas sociais e de distribuição de renda no governo petista podem rejeitar o discurso tucano. Podem acreditar, de fato, que Aécio significa uma ameaça aos programas sociais. O tucano terá que dosar seu discurso e mostrar as políticas sociais vitoriosas implantadas no estado, como o Mães de Minas.O lastro da campanha de Aécio deve ser seu legado, suas realizações em Minas, e não apenas a encarnação do anti-PT. Os eleitores que ainda não o conhecem querem saber o que o ex-governador de Minas fez no estado que governou. Querem saber o que ele faz para entender o que poderá fazer pelo Brasil.
Por fim, há uma grande arapuca chamada Copa do Mundo, que pode afetar tanto o governo quanto a oposição. Ninguém duvida de que haverá manifestações de rua. Ainda não dá para medir a intensidade e o impacto que terão nas campanhas. Quem primeiro souber decifrá-las e capturá-las terá uma vantagem preciosa na eleição. No ano passado, a perplexidade atrapalhou a leitura correta dos fatos. Neste sentido, as palavras-chave da campanha parecem ser "esperança" e "confiança". Quem passar essa leitura para o eleitor ficará em bons lençóis.
Já há algumas arapucas nas eleições para o governo de Minas também. O petista Fernando Pimentel é forte em Belo Horizonte e sua boa administração ainda está na memória das pessoas que moram na capital. O problema é que Pimentel aliou-se a Aécio em eleições passadas, o que limita o nível de ataque aos governos tucanos e pode dar um nó na cabeça dos eleitores.
Pimenta da Veiga luta contra o fato de ter ficado mais de uma década longe da política e ter abandonado a Prefeitura de BH para candidatar-se ao governo do estado. Ainda precisa construir sua imagem. Terá de centrar fogo na capital, que costuma decidir eleições. Seu trunfo é seu vice, Diniz Pinheiro, deputado estadual com altíssima votação no interior. Seu fantasma é o governador Alberto Pinto Coelho, cujo partido, o PP, ainda faz parte da base aliada de Dilma. Apesar do que dizem por aí, Alberto ainda é, sim, um plano B para os tucanos. Basta ver sua agenda diária.
Na campanha presidencial, o PT está ressuscitando a velha luta de classes para tentar deter o avanço da oposição, representada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo governador Eduardo Campos (PSB-PE).
A ideia é mostrar que o partido governa para os pobres e é pai e mãe de todos os programas sociais do país, principalmente do Bolsa Família - e que uma eventual vitória da oposição na eleição pode favorecer os ricos, os bem-nascidos, e enterrar tudo que foi conquistado até agora. É uma arapuca da qual o próprio PT pode ser vítima.
Se ficar refém apenas desse discurso, o PT não terá argumentos para penetrar e conquistar votos em outros setores da pirâmide social - e mesmo as camadas mais baixas já estão mostrando insatisfação com os gastos bilionários da Copa do Mundo e a péssima qualidade dos serviços públicos, como saúde, educação e segurança. Os índices de rejeição da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, mostram que esse discurso é insuficiente para garantir a vitória em outubro. E, se a inflação sair mesmo de controle, vai corroer parte dos ganhos das políticas sociais. Críticas e escândalos políticos não "colavam" em Lula. Mas Dilma não é Lula.
O discurso da luta de classe pode também afugentar investimentos e investidores, parando de vez uma economia que já está com o pé no freio, minando a confiança no futuro e reduzindo o número de empregos - um dos trunfos do PT. Além do mais, Aécio já protocolou no Senado projeto de lei que torna o Bolsa Família um programa de Estado, e não de um governo. Ou seja, um programa vitalício. É bom lembrar que o Bolsa Família foi a união de vários programas de proteção social que já haviam sido lançados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Por outro lado, o PT perdeu uma bandeira: a desestatização promovida no governo de FHC, criticada duramente pelo partido até hoje. Ciente de que o atual governo não teria recursos para tocar programas de infraestrutura, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tratou de jogar estradas, ferrovias e aeroportos nas mãos da iniciativa privada. Traduzindo: uma bandeira da eleição passada, que mostrou-se eficiente para os petistas, pode virar uma arapuca agora para ser usada pela oposição. O partido terá que encontrar um discurso convincente para lidar com essas questões.
Já a estratégia de Aécio vem sendo a de bater forte no governo. Há também uma arapuca aí: as parcelas da população que foram beneficiadas por programas sociais e de distribuição de renda no governo petista podem rejeitar o discurso tucano. Podem acreditar, de fato, que Aécio significa uma ameaça aos programas sociais. O tucano terá que dosar seu discurso e mostrar as políticas sociais vitoriosas implantadas no estado, como o Mães de Minas.O lastro da campanha de Aécio deve ser seu legado, suas realizações em Minas, e não apenas a encarnação do anti-PT. Os eleitores que ainda não o conhecem querem saber o que o ex-governador de Minas fez no estado que governou. Querem saber o que ele faz para entender o que poderá fazer pelo Brasil.
Por fim, há uma grande arapuca chamada Copa do Mundo, que pode afetar tanto o governo quanto a oposição. Ninguém duvida de que haverá manifestações de rua. Ainda não dá para medir a intensidade e o impacto que terão nas campanhas. Quem primeiro souber decifrá-las e capturá-las terá uma vantagem preciosa na eleição. No ano passado, a perplexidade atrapalhou a leitura correta dos fatos. Neste sentido, as palavras-chave da campanha parecem ser "esperança" e "confiança". Quem passar essa leitura para o eleitor ficará em bons lençóis.
Já há algumas arapucas nas eleições para o governo de Minas também. O petista Fernando Pimentel é forte em Belo Horizonte e sua boa administração ainda está na memória das pessoas que moram na capital. O problema é que Pimentel aliou-se a Aécio em eleições passadas, o que limita o nível de ataque aos governos tucanos e pode dar um nó na cabeça dos eleitores.
Pimenta da Veiga luta contra o fato de ter ficado mais de uma década longe da política e ter abandonado a Prefeitura de BH para candidatar-se ao governo do estado. Ainda precisa construir sua imagem. Terá de centrar fogo na capital, que costuma decidir eleições. Seu trunfo é seu vice, Diniz Pinheiro, deputado estadual com altíssima votação no interior. Seu fantasma é o governador Alberto Pinto Coelho, cujo partido, o PP, ainda faz parte da base aliada de Dilma. Apesar do que dizem por aí, Alberto ainda é, sim, um plano B para os tucanos. Basta ver sua agenda diária.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Bonsucesso dribla burocracia do crédito
O Brasil poderia estar crescendo em ritmo bem mais acelerado que o atual se o governo não estivesse passando por um momento de extrema indefinição e não tivesse burocratizado tanto o crédito. Quem garante é a diretora da área internacional do Banco Bonsucesso, Juliana Guimarães (foto). A instituição mineira tem, como principais mercados, o crédito consignado e crédito para pequenas e médias empresas (middle market).
A indefinição da política econômica e industrial e as incertezas quanto aos rumos da economia, segundo Juliana, acabam travando os investimentos das grandes empresas brasileiras, como Vale e Petrobras, e de setores importantes, como a construção civil. Por tabela, afetam as pequenas e médias empresas que prestam serviços para essas gigantes, aumentando a inadimplência no setor. Com a inadimplência, o crédito fica mais restritivo, criando um círculo vicioso - e perigoso. "Os bancos viram a inadimplência crescer nos últimos três anos, principalmente em 2013, quando as pequenas e médias empresas apostaram muito no país e tivemos um crescimento pífio. Por isso, o crédito está mais restrito", diz.
Apesar de tudo, o Bonsucesso continua apostando nos segmento de consignado ("hoje um mercado de gente grande", diz Juliana) e middle market. A principal arma do banco nesses segmentos são os cartões - instrumento ainda inexplorado pelas grandes instituições financeiras do país."Nossa expectativa de expansão firme está na plataforma de cartões, onde a concorrência é bem menor", afirma a diretora. Desde 2010, o crescimento do banco nesse setor tem sido de dois dígitos. No ano passado, foi de 11%.
Na área de pessoa física (PF), o banco oferece cartão de crédito consignado em folha para servidores públicos, com comprometimento máximo de 10% da renda e juros 50% menores que os cartões tradicionais. A carteira do banco nesse segmento já é de R$ 500 milhões.
Mas, ainda para PF, a grande sacada do banco foi o cartão de crédito pré-pago, o Meo Cartão, em parceria com a RÊV Worldwide e Mastercard. Funciona como um cartão pré-pago de celular: o cliente não precisa comprovar renda e recarrega o cartão com o valor que escolher. É usado principalmente para compras na internet, mercado que movimenta cerca de R$ 23 bilhões no Brasil. O tíquete médio de recarga tem sido de R$ 360.
"O motivo do mercado de pré-pago para celular ser um sucesso é que a pessoa sabe quanto vai gastar. Isso também explica o sucesso do cartão de crédito pré-pago.E é ainda uma forma de inclusão social", diz Juliana. O banco já vendeu quase 100 mil cartões de crédito pré-pago.
A outra sacada do Bonsucesso para desburocratizar o crédito é o cartão Giro Certo, em parceria com a Visa. Com ele, micro e pequenos empresários conseguem antecipar recebíveis em 24h - ou seja, não precisam esperar um mês, como nos cartões tradicionais. "Conseguimos ver a agenda de recebíveis do cliente e antecipar a ele o valor no dia seguinte. Se ele usar o cartão na função crédito, o juro é zero. Se quiser dinheiro, paga metade dos juros somente sobre o que sacar", diz a diretora do banco mineiro. "É um produto brilhante. Damos crédito em cima de recebíveis e o cliente tem uma forma de pagamento digital", completa.
Os cartões hoje são os instrumentos de crédito mais rentáveis do Bonsucesso. Por outro lado, ajudam a destravar o segmento de PF e middle market, vitais para a economia brasileira. "Estamos no caminho certo. Nossas apostas vão se concretizar em 2014", garante Juliana.
As iniciativas do Bonsucesso para destravar e agilizar o crédito mostram que, apesar do cenário de incertezas, há espaço para crescimento econômico no Brasil. A criatividade da iniciativa privada pode ajudar..
A indefinição da política econômica e industrial e as incertezas quanto aos rumos da economia, segundo Juliana, acabam travando os investimentos das grandes empresas brasileiras, como Vale e Petrobras, e de setores importantes, como a construção civil. Por tabela, afetam as pequenas e médias empresas que prestam serviços para essas gigantes, aumentando a inadimplência no setor. Com a inadimplência, o crédito fica mais restritivo, criando um círculo vicioso - e perigoso. "Os bancos viram a inadimplência crescer nos últimos três anos, principalmente em 2013, quando as pequenas e médias empresas apostaram muito no país e tivemos um crescimento pífio. Por isso, o crédito está mais restrito", diz.
Apesar de tudo, o Bonsucesso continua apostando nos segmento de consignado ("hoje um mercado de gente grande", diz Juliana) e middle market. A principal arma do banco nesses segmentos são os cartões - instrumento ainda inexplorado pelas grandes instituições financeiras do país."Nossa expectativa de expansão firme está na plataforma de cartões, onde a concorrência é bem menor", afirma a diretora. Desde 2010, o crescimento do banco nesse setor tem sido de dois dígitos. No ano passado, foi de 11%.
Na área de pessoa física (PF), o banco oferece cartão de crédito consignado em folha para servidores públicos, com comprometimento máximo de 10% da renda e juros 50% menores que os cartões tradicionais. A carteira do banco nesse segmento já é de R$ 500 milhões.
Mas, ainda para PF, a grande sacada do banco foi o cartão de crédito pré-pago, o Meo Cartão, em parceria com a RÊV Worldwide e Mastercard. Funciona como um cartão pré-pago de celular: o cliente não precisa comprovar renda e recarrega o cartão com o valor que escolher. É usado principalmente para compras na internet, mercado que movimenta cerca de R$ 23 bilhões no Brasil. O tíquete médio de recarga tem sido de R$ 360.
"O motivo do mercado de pré-pago para celular ser um sucesso é que a pessoa sabe quanto vai gastar. Isso também explica o sucesso do cartão de crédito pré-pago.E é ainda uma forma de inclusão social", diz Juliana. O banco já vendeu quase 100 mil cartões de crédito pré-pago.
A outra sacada do Bonsucesso para desburocratizar o crédito é o cartão Giro Certo, em parceria com a Visa. Com ele, micro e pequenos empresários conseguem antecipar recebíveis em 24h - ou seja, não precisam esperar um mês, como nos cartões tradicionais. "Conseguimos ver a agenda de recebíveis do cliente e antecipar a ele o valor no dia seguinte. Se ele usar o cartão na função crédito, o juro é zero. Se quiser dinheiro, paga metade dos juros somente sobre o que sacar", diz a diretora do banco mineiro. "É um produto brilhante. Damos crédito em cima de recebíveis e o cliente tem uma forma de pagamento digital", completa.
Os cartões hoje são os instrumentos de crédito mais rentáveis do Bonsucesso. Por outro lado, ajudam a destravar o segmento de PF e middle market, vitais para a economia brasileira. "Estamos no caminho certo. Nossas apostas vão se concretizar em 2014", garante Juliana.
As iniciativas do Bonsucesso para destravar e agilizar o crédito mostram que, apesar do cenário de incertezas, há espaço para crescimento econômico no Brasil. A criatividade da iniciativa privada pode ajudar..
terça-feira, 13 de maio de 2014
"Um pouco de trabalho" para Dilma
No evento da assinatura das obras de duplicação da BR-381 realizado ontem em Ipatinga (foto), um assessor da presidente Dilma Rousseff (PT) admitiu a auxiliares que as eleições presidenciais desse ano (Dilma é candidata à reeleição) darão "um pouco mais trabalho" do que o governo previa. Mas que ela será reeleita.
Sem dúvida, as eleições darão um pouco mais de trabalho. No início do ano, o Palácio do Planalto contava com a reeleição de Dilma no primeiro turno. Agora, o segundo turno já aparece no retrovisor. O Ibope acaba de protocolar uma nova pesquisa, que deverá ser divulgada nos próximos dias. Os grandes problemas de Dilma estão na economia - os empregos no setor industrial, por exemplo, estão em queda, tal como foi divulgado hoje, e a inflação (principalmente a não oficial) segue alta, bem acima do centro da meta estabelecido pelo governo, de 4,5% ao ano.
Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte e Dilma tem, sim, chances de ser reeleita - mas, realmente, terá um "pouco mais de trabalho" para vencer do que imaginava. A oposição (o senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB) cresceu nas três últimas pesquisas divulgadas recententemente (CNT, Datafolha e Sensus). Vamos ver o que trará a pesquisa do Ibope.
Em tempo: depois de três meses fazendo tratamento de saúde no Rio Grande do Sul, o ex-deputado e ex-prefeito de Ipatinga, Chico Ferramenta (PT), reapareceu em público na solenidade de ontem. Mas seus problemas de saúde permanecem.
Sem dúvida, as eleições darão um pouco mais de trabalho. No início do ano, o Palácio do Planalto contava com a reeleição de Dilma no primeiro turno. Agora, o segundo turno já aparece no retrovisor. O Ibope acaba de protocolar uma nova pesquisa, que deverá ser divulgada nos próximos dias. Os grandes problemas de Dilma estão na economia - os empregos no setor industrial, por exemplo, estão em queda, tal como foi divulgado hoje, e a inflação (principalmente a não oficial) segue alta, bem acima do centro da meta estabelecido pelo governo, de 4,5% ao ano.
Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte e Dilma tem, sim, chances de ser reeleita - mas, realmente, terá um "pouco mais de trabalho" para vencer do que imaginava. A oposição (o senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB) cresceu nas três últimas pesquisas divulgadas recententemente (CNT, Datafolha e Sensus). Vamos ver o que trará a pesquisa do Ibope.
Em tempo: depois de três meses fazendo tratamento de saúde no Rio Grande do Sul, o ex-deputado e ex-prefeito de Ipatinga, Chico Ferramenta (PT), reapareceu em público na solenidade de ontem. Mas seus problemas de saúde permanecem.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
O vice de Aécio Neves
Reza a lenda política ser o ex-presidente Getúlio Vargas (foto) o autor da seguinte frase: "Na política, não faça amigos dos quais não possa se afastar, nem inimigos dos quais não possa se reaproximar".
A frase cai como luva no momento em aumentam as especulações sobre o nome do ex-ministro e ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), como vice do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial. Aécio e Serra travaram no passado disputas pesadas pelo controle do partido e tiveram as relações estremecidas. Mas, seguindo a sabedoria de Getúlio Vargas, parecem dispostos a se aproximar.
É uma equação interessante. Se Aécio tiver como vice um nome forte e com penetração em São Paulo, trará para si os dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), aumentando suas chances nas eleições. Se o tucano tiver forte votação nesses dois estados, dificilmente deixará de ir ao segundo turno. E terá o PSDB realmente unido em torno de seu nome.
A estratégia dos vices é vital para as chances de vitória numa eleição presidencial. Usa-se o cargo para atrair um partido ou uma determinada região.
Tancredo Neves trouxe José Sarney como vice para aplacar os atritos com a ala mais dura dos quartéis. Collor buscou Itamar Franco para ganhar penetração em Minas Gerais e legitimar seu nome no meio político. Fernando Henrique Cardoso buscou seus vices no Nordeste para se fortalecer na região. Lula foi atrás de José Alencar para selar a aliança entre capital e trabalho e se fortalecer em Minas. A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, correu atrás de um vice do PMDB (fosse ele quem fosse) para contar com a sigla na base aliada. Se fechar com algum político paulista como vice, Aécio poderá desagradar um ou outro partido ou aliado, mas terá um cenário eleitoral favorável.
Dificilmente o tucano conseguirá grande votação no Nordeste, área dominada pelo Bolsa Família do PT e região do governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Já num eventual segundo turno com Dilma, a coisa mudaria de figura. Aécio provavelmente teria o apoio de Campos e mais votos no Nordeste. No Sul do país, a situação se embaralha. Embora seja mineira de nascimento, a presidente Dilma Rousseff (PT) é gaúcha de história e coração e deverá liderar a votação na região - ou, pelo menos, no Rio Grande do Sul.
Seja como for, a simples reaproximação entre Aécio e Serra já é uma boa notícia para o mineiro. Aécio precisa de São Paulo. Precisa dos eleitores de São Paulo. Precisa do PSDB unido em torno de seu nome. E o PSDB, por sua vez, terá nessa eleição uma chance real de vitória, já que a avaliação do governo da presidente Dilma está arranhada. O tucano ainda tem um mês para costurar o nome do vice. Dilma também, mas permanece amarrada no PMDB. E Campos já tem uma vice, Marina Silva. O jogo está interessante.
A frase cai como luva no momento em aumentam as especulações sobre o nome do ex-ministro e ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), como vice do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial. Aécio e Serra travaram no passado disputas pesadas pelo controle do partido e tiveram as relações estremecidas. Mas, seguindo a sabedoria de Getúlio Vargas, parecem dispostos a se aproximar.
É uma equação interessante. Se Aécio tiver como vice um nome forte e com penetração em São Paulo, trará para si os dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), aumentando suas chances nas eleições. Se o tucano tiver forte votação nesses dois estados, dificilmente deixará de ir ao segundo turno. E terá o PSDB realmente unido em torno de seu nome.
A estratégia dos vices é vital para as chances de vitória numa eleição presidencial. Usa-se o cargo para atrair um partido ou uma determinada região.
Tancredo Neves trouxe José Sarney como vice para aplacar os atritos com a ala mais dura dos quartéis. Collor buscou Itamar Franco para ganhar penetração em Minas Gerais e legitimar seu nome no meio político. Fernando Henrique Cardoso buscou seus vices no Nordeste para se fortalecer na região. Lula foi atrás de José Alencar para selar a aliança entre capital e trabalho e se fortalecer em Minas. A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, correu atrás de um vice do PMDB (fosse ele quem fosse) para contar com a sigla na base aliada. Se fechar com algum político paulista como vice, Aécio poderá desagradar um ou outro partido ou aliado, mas terá um cenário eleitoral favorável.
Dificilmente o tucano conseguirá grande votação no Nordeste, área dominada pelo Bolsa Família do PT e região do governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Já num eventual segundo turno com Dilma, a coisa mudaria de figura. Aécio provavelmente teria o apoio de Campos e mais votos no Nordeste. No Sul do país, a situação se embaralha. Embora seja mineira de nascimento, a presidente Dilma Rousseff (PT) é gaúcha de história e coração e deverá liderar a votação na região - ou, pelo menos, no Rio Grande do Sul.
Seja como for, a simples reaproximação entre Aécio e Serra já é uma boa notícia para o mineiro. Aécio precisa de São Paulo. Precisa dos eleitores de São Paulo. Precisa do PSDB unido em torno de seu nome. E o PSDB, por sua vez, terá nessa eleição uma chance real de vitória, já que a avaliação do governo da presidente Dilma está arranhada. O tucano ainda tem um mês para costurar o nome do vice. Dilma também, mas permanece amarrada no PMDB. E Campos já tem uma vice, Marina Silva. O jogo está interessante.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Atestado de óbito
Na terça-feira, postei neste blog que o Estado brasileiro estava morto. Que ninguém mais acredita nas instituições, o que explicaria as barbáries e selvagerias que temos visto todos os dias nos noticiários, como o recentemente linchamento de uma dona de casa no Guarujá.
Pois bem. O atestado de óbito apareceu. Segundo notícia publicada hoje na imprensa, pesquisa realizada em março com 2 mil pessoas pelo Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (NUPPs) mostrou que 70,5% dos brasileiros não confiam nas leis. Daí, o sentimento de impunidade. E pior: 76,3% não confiam no Congresso. Daí o sentimento de exclusão das decisões que definem o rumo do país. Mas 78% confiam no Corpo de Bombeiros. Segundo a pesquisa, tais sentimentos começaram a aparecer - e piorar - a partir de 2006.
Esses dados são de uma gravidade nunca antes vista na história desse país. Os brasileiros não acreditam no Brasil. Não acreditam nas instituições que deveriam representá-los. Daí o vandalismo, a destruição, a justiça pelas próprias mãos. Daí a barbárie.
Há muito em jogo nesses números. O futuro do país está em aberto. Estamos vivendo um momento extremamente delicado da história nacional. Há um cansaço enorme com a política, com as instituições, com a leis, com promessas não cumpridas, com corrupção. Estamos vivendo numa terra sem lei. E a corrupção se concentra no andar de cima da escala do poder político e econômico, da elite, que deveria ser responsável por um país sadio e confiante. Ah, 73,7% disseram não acreditar nos empresários.
Há um vácuo onde deveria haver esperança e confiança. Como a física nos ensina que não existem espaços vazios, esse vácuo pode ser ocupado a qualquer momento por alguém ou alguma coisa que não seja boa para os brasileiros.
Os governantes brasileiros, de todos os níveis de poder (federal, estadual e municipal) precisam observar com atenção os números dessa pesquisa. Presidente, governadores, deputados, senadores, vereadores, prefeitos, juízes, magistrados, empresários, cidadãos comuns.... olhem esses números.
É preciso resgatar a esperança de uma nação. A confiança nas instituições.
Caso contrário, só nos restará eleger um integrante do Corpo de Bombeiros para a Presidência da República. Ou algo pior.
Pois bem. O atestado de óbito apareceu. Segundo notícia publicada hoje na imprensa, pesquisa realizada em março com 2 mil pessoas pelo Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (NUPPs) mostrou que 70,5% dos brasileiros não confiam nas leis. Daí, o sentimento de impunidade. E pior: 76,3% não confiam no Congresso. Daí o sentimento de exclusão das decisões que definem o rumo do país. Mas 78% confiam no Corpo de Bombeiros. Segundo a pesquisa, tais sentimentos começaram a aparecer - e piorar - a partir de 2006.
Esses dados são de uma gravidade nunca antes vista na história desse país. Os brasileiros não acreditam no Brasil. Não acreditam nas instituições que deveriam representá-los. Daí o vandalismo, a destruição, a justiça pelas próprias mãos. Daí a barbárie.
Há muito em jogo nesses números. O futuro do país está em aberto. Estamos vivendo um momento extremamente delicado da história nacional. Há um cansaço enorme com a política, com as instituições, com a leis, com promessas não cumpridas, com corrupção. Estamos vivendo numa terra sem lei. E a corrupção se concentra no andar de cima da escala do poder político e econômico, da elite, que deveria ser responsável por um país sadio e confiante. Ah, 73,7% disseram não acreditar nos empresários.
Há um vácuo onde deveria haver esperança e confiança. Como a física nos ensina que não existem espaços vazios, esse vácuo pode ser ocupado a qualquer momento por alguém ou alguma coisa que não seja boa para os brasileiros.
Os governantes brasileiros, de todos os níveis de poder (federal, estadual e municipal) precisam observar com atenção os números dessa pesquisa. Presidente, governadores, deputados, senadores, vereadores, prefeitos, juízes, magistrados, empresários, cidadãos comuns.... olhem esses números.
É preciso resgatar a esperança de uma nação. A confiança nas instituições.
Caso contrário, só nos restará eleger um integrante do Corpo de Bombeiros para a Presidência da República. Ou algo pior.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
As derrotas de Dilma
Não é segredo para ninguém que a presidente Dilma Rousseff (PT) vem apresentando problemas de popularidade nas últimas semanas. A avaliação de seu governo junto à população está em queda. Se isso vai ou não comprometer seu desempenho na luta pela reeleição em outubro, é cedo para dizer. Mas o fato é que Dilma perdeu algumas batalhas importantes nos últimos meses.
Dilma perdeu a batalha pelo mercado financeiro. Não pensem que se trata de uma bobagem elitista. O mercado financeiro, que movimenta trilhões de dólares ao redor do mundo todos os dias, tem interesses pesados no Brasil. Ele não é uma figura retórica. Tem centenas de olhos, milhares de ouvidos, milhões de mãos. Tem engrenagens sofisticadas e perversas, quando necessário. Joga sujo quando quer. E tem, acima de tudo, aversão a riscos e mudanças de regras no meio do jogo. E, sim, tem capacidade para influir na vida de um país e de seus cidadãos.
Lula sabia disso. Tanto que nomeou um banqueiro de renome e atuação internacional, Henrique Meirelles, como presidente do Banco Central (BC). Colocou um conciliador no Ministério da Fazenda, Antonio Palocci. Foi um sinal, um aceno de paz, ao mercado. Um recado sinalizando que regras não seriam quebradas. Funcionou, mesmo na crise global de 2008. O mercado está cheio de tubarões. É necessário ter tubarões ao seu lado para lidar com o mercado.
Dilma ignorou o mercado. Deixou um economista desacreditado, Guido Mantega, no posto de ministro da Fazenda. Não há nada pior do que deixar um nome sem credibilidade no mercado ocupando o cargo que Mantega ocupa. Mantega não é um tubarão. É uma foca. As coisas pioraram quando o governo, pelas mãos da equipe de Mantega, inventou a tal contabilidade criativa para maquiar a piora das contas públicas. Depois, interviu fortemente no setor de energia, obrigando empresas de eletricidade a engolir regras que não estavam no jogo, assim como ainda hoje obriga a Petrobras a manter o preço da gasolina engessado. O mercado não é burro. Percebeu as manobras e disseminou a desconfiança no futuro da economia. E, meu amigo, eu lhe digo uma coisa: boa parte do bom andamento da economia depende do sentimento de confiança de empresas e cidadãos.
Confiança é um bem raro. Quando se quebra, resta tentar juntar os cacos. A situação macroeconômica do Brasil hoje não é um desastre. Mas o sentimento de confiança de empresas, que estão freando investimentos, e da população, que freou o consumo, não é dos melhores. O resultado pode ser visto na queda dos números de novos empregos e no aumento da inflação (se as pessoas e empresas acham que a inflação vai aumentar, ela aumenta; e o mercado tem dito ao país que a inflação vai aumentar).
O que fazer? Uma mudança no Ministério da Fazenda, com a saída de Mantega e a entrada de alguém que ainda tem diálogo com o mercado, como o presidente do BC, Alexandre Tombini, seria um sinal de que a presidente gostaria de abrir um canal de comunicação. Mas Dilma fará isso? Só se a situação se deteriorar muito. E Tombini que se vire para segurar a inflação, elevando os juros às alturas. Dilma tem um estilo durão, pouco afeito a críticas e mudanças. Um ex-presidente da Eletrobras revelou certa vez que a atendeu ao telefone (Dilma era ainda ministra de Minas e Energia) para falar de uma determinação, imposta por ela, que ainda não havia sido cumprida. Recebeu, como resposta, palavras de baixo calão.
Eis aí a outra batalha perdida por Dilma: a da comunicação.
A presidente não se comunica bem com o mercado, nem com sua base aliada, nem com seu partido, nem com o Congresso Nacional, nem com a população. Isso poderia ser amenizado se ela se cercasse de gente competente, interlocutores capazes de ouvir reivindicações e responder à altura. Mas alguns dos assessores e ex-assessores de Dilma, como Gleisi Hoffmann e Ideli Salvati, mal têm cacife para ser assessoras de vereador. E há que se lembrar que na "base aliada" está o PMDB que, tal como um cachorro raivoso, mostra os dentes sempre que se sente prejudicado.
Dilma também perdeu a batalha das ruas. Teve uma chance de ouro nas mãos durante as manifestações de junho do ano passado para mostrar que seu governo tinha condições de atender o que a população pedia: serviços públicos de qualidade e o fim da corrupção. Mas preferiu falar em pactos e torcer para que a coisa esfriasse. Fez uma leitura completamente equivocada do cenário político e social. O pacto morreu. E a coisa não esfriou. Está latente na sociedade, à espera de uma faísca para pegar fogo. Para piorar, vieram escândalos envolvendo a Petrobras e a própria Dilma, então presidente do conselho da estatal quando da compra desastrada da refinaria de Pasadena.
É difícil prever onde tudo isso vai parar. A Copa está aí e logo depois virão as eleições. É bastante provável que a Copa traga junto novas manifestações populares e batalhas nas ruas. A inflação continua subindo, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores. Há muita insatisfação em vários setores cruciais da sociedade. Os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), estão subindo nas pesquisas, mostrando a real possibilidade de segundo turno. A militância do PT não morre de amores por Dilma.
A presidente será capaz de virar o jogo, após vários pontes derrubadas?
Crédito da foto: acritica.uol.com.br
Dilma perdeu a batalha pelo mercado financeiro. Não pensem que se trata de uma bobagem elitista. O mercado financeiro, que movimenta trilhões de dólares ao redor do mundo todos os dias, tem interesses pesados no Brasil. Ele não é uma figura retórica. Tem centenas de olhos, milhares de ouvidos, milhões de mãos. Tem engrenagens sofisticadas e perversas, quando necessário. Joga sujo quando quer. E tem, acima de tudo, aversão a riscos e mudanças de regras no meio do jogo. E, sim, tem capacidade para influir na vida de um país e de seus cidadãos.
Lula sabia disso. Tanto que nomeou um banqueiro de renome e atuação internacional, Henrique Meirelles, como presidente do Banco Central (BC). Colocou um conciliador no Ministério da Fazenda, Antonio Palocci. Foi um sinal, um aceno de paz, ao mercado. Um recado sinalizando que regras não seriam quebradas. Funcionou, mesmo na crise global de 2008. O mercado está cheio de tubarões. É necessário ter tubarões ao seu lado para lidar com o mercado.
Dilma ignorou o mercado. Deixou um economista desacreditado, Guido Mantega, no posto de ministro da Fazenda. Não há nada pior do que deixar um nome sem credibilidade no mercado ocupando o cargo que Mantega ocupa. Mantega não é um tubarão. É uma foca. As coisas pioraram quando o governo, pelas mãos da equipe de Mantega, inventou a tal contabilidade criativa para maquiar a piora das contas públicas. Depois, interviu fortemente no setor de energia, obrigando empresas de eletricidade a engolir regras que não estavam no jogo, assim como ainda hoje obriga a Petrobras a manter o preço da gasolina engessado. O mercado não é burro. Percebeu as manobras e disseminou a desconfiança no futuro da economia. E, meu amigo, eu lhe digo uma coisa: boa parte do bom andamento da economia depende do sentimento de confiança de empresas e cidadãos.
Confiança é um bem raro. Quando se quebra, resta tentar juntar os cacos. A situação macroeconômica do Brasil hoje não é um desastre. Mas o sentimento de confiança de empresas, que estão freando investimentos, e da população, que freou o consumo, não é dos melhores. O resultado pode ser visto na queda dos números de novos empregos e no aumento da inflação (se as pessoas e empresas acham que a inflação vai aumentar, ela aumenta; e o mercado tem dito ao país que a inflação vai aumentar).
O que fazer? Uma mudança no Ministério da Fazenda, com a saída de Mantega e a entrada de alguém que ainda tem diálogo com o mercado, como o presidente do BC, Alexandre Tombini, seria um sinal de que a presidente gostaria de abrir um canal de comunicação. Mas Dilma fará isso? Só se a situação se deteriorar muito. E Tombini que se vire para segurar a inflação, elevando os juros às alturas. Dilma tem um estilo durão, pouco afeito a críticas e mudanças. Um ex-presidente da Eletrobras revelou certa vez que a atendeu ao telefone (Dilma era ainda ministra de Minas e Energia) para falar de uma determinação, imposta por ela, que ainda não havia sido cumprida. Recebeu, como resposta, palavras de baixo calão.
Eis aí a outra batalha perdida por Dilma: a da comunicação.
A presidente não se comunica bem com o mercado, nem com sua base aliada, nem com seu partido, nem com o Congresso Nacional, nem com a população. Isso poderia ser amenizado se ela se cercasse de gente competente, interlocutores capazes de ouvir reivindicações e responder à altura. Mas alguns dos assessores e ex-assessores de Dilma, como Gleisi Hoffmann e Ideli Salvati, mal têm cacife para ser assessoras de vereador. E há que se lembrar que na "base aliada" está o PMDB que, tal como um cachorro raivoso, mostra os dentes sempre que se sente prejudicado.
Dilma também perdeu a batalha das ruas. Teve uma chance de ouro nas mãos durante as manifestações de junho do ano passado para mostrar que seu governo tinha condições de atender o que a população pedia: serviços públicos de qualidade e o fim da corrupção. Mas preferiu falar em pactos e torcer para que a coisa esfriasse. Fez uma leitura completamente equivocada do cenário político e social. O pacto morreu. E a coisa não esfriou. Está latente na sociedade, à espera de uma faísca para pegar fogo. Para piorar, vieram escândalos envolvendo a Petrobras e a própria Dilma, então presidente do conselho da estatal quando da compra desastrada da refinaria de Pasadena.
É difícil prever onde tudo isso vai parar. A Copa está aí e logo depois virão as eleições. É bastante provável que a Copa traga junto novas manifestações populares e batalhas nas ruas. A inflação continua subindo, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores. Há muita insatisfação em vários setores cruciais da sociedade. Os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), estão subindo nas pesquisas, mostrando a real possibilidade de segundo turno. A militância do PT não morre de amores por Dilma.
A presidente será capaz de virar o jogo, após vários pontes derrubadas?
Crédito da foto: acritica.uol.com.br
terça-feira, 6 de maio de 2014
O Estado está morto
Um crime bárbaro aconteceu no fim de semana. Uma mulher foi espancada até a morte por ser confundida com uma sequestradora de crianças em Guarujá. Detalhe: a população local sequer sabe se a tal sequestradora existe mesmo.
Recentemente, homens foram amarrados a postes no Rio de Janeiro por populares, sob alegação de que seriam ladrões.
Parece que parte da população brasileira resolveu fazer justiça com as próprias mãos. É crime, mas a certeza da impunidade é mais forte do que a crença nas leis e no poder público.
Deve ter sido o mesmo motivo que levou alguém a jogar um vaso sanitário de um estádio de futebol na torcida adversária, em Recife, matando uma pessoa. O mesmo motivo que leva pessoas a incendiarem ônibus como forma de protesto.
O que todos esses fatos têm em comum? O cansaço com ineficiência do Estado brasileiro. A descrença completa e total nas instituições públicas. A falência de uma nação.
As manifestações públicas de junho do ano passado não receberam a leitura correta por parte da classe política brasileira, seja ela de oposição ou situação.
As pessoas foram às ruas para pedir um país novo. Um país eficiente, com serviços públicos de qualidade, com o fim da impunidade e da corrupção.
As pessoas de bem, que eram maioria naquelas manifestações, estão cansadas de um país que, tal como um bêbado cambaleando nas ruas, não encontra seu caminho.
Desde junho do ano passado, temos um Brasil, mais violento, com mais conflitos, e com justiceiros que acreditam que podem cometer seus crimes impunemente.
Os doutores dos palácios e dos assentos macios do Congresso Nacional, das assembleias legislativas e das câmaras municipais não estão interessados na leitura das ruas, a menos que ela signifique votos ou vantagens. E a elite? Ah, a elite... boa parte dela blinda seus carrões, vai morar em castelos medievais e seguros chamados condomínios ou simplesmente encontra a saída no aeroporto. Grande parte da elite brasileira sempre foi covarde, desde o descobrimento do país, há 500 anos. Se resolvesse, toda ela, pegar o caminho do aeroporto, talvez fizesse um bem ao país.
O brasileiro cansou. Cansou de pagar o pato e impostos que nunca voltam em forma de benefícios. O Estado brasileiro está desacreditado. Está na lama. E, quando isso acontece, abrem-se as portas para o imprevisível. O surgimento de justiceiros é um desses fatos imprevisíveis. Se não forem contidos agora, continuaremos a ver crimes bárbaros e covardes como o de Guarujá.
Mas a falência do Estado é ainda mais perigosa.
Ela abre espaço para salvadores da pátria que, quase que surgidos do nada, prometem a redenção. Abre espaço para movimentos que pedem a volta de regimes de exceção (sim, esses movimentos estão ocorrendo). A falência do Estado mata a esperança do cidadão brasileiro num país melhor. E, sem esperança, sem Estado e sem leis, resta o vandalismo, os justiceiros, os crimes.
O Estado brasileiro está morto porque aqueles que seriam responsável pela sua existência estão, e sempre estiveram, preocupados demais em pilhar e saquear o que estiver à mão. Porque acreditam na impunidade. Acreditam na estupidez do povo. Não são capazes de perceber que o buraco é mais embaixo. São tão burros que não percebem que seria preferível dar os anéis (saúde, educação, segurança, combate à corrupção) e manter os dedos.
Ah, mas temos a Copa. Ainda bem.
Recentemente, homens foram amarrados a postes no Rio de Janeiro por populares, sob alegação de que seriam ladrões.
Parece que parte da população brasileira resolveu fazer justiça com as próprias mãos. É crime, mas a certeza da impunidade é mais forte do que a crença nas leis e no poder público.
Deve ter sido o mesmo motivo que levou alguém a jogar um vaso sanitário de um estádio de futebol na torcida adversária, em Recife, matando uma pessoa. O mesmo motivo que leva pessoas a incendiarem ônibus como forma de protesto.
O que todos esses fatos têm em comum? O cansaço com ineficiência do Estado brasileiro. A descrença completa e total nas instituições públicas. A falência de uma nação.
As manifestações públicas de junho do ano passado não receberam a leitura correta por parte da classe política brasileira, seja ela de oposição ou situação.
As pessoas foram às ruas para pedir um país novo. Um país eficiente, com serviços públicos de qualidade, com o fim da impunidade e da corrupção.
As pessoas de bem, que eram maioria naquelas manifestações, estão cansadas de um país que, tal como um bêbado cambaleando nas ruas, não encontra seu caminho.
Desde junho do ano passado, temos um Brasil, mais violento, com mais conflitos, e com justiceiros que acreditam que podem cometer seus crimes impunemente.
Os doutores dos palácios e dos assentos macios do Congresso Nacional, das assembleias legislativas e das câmaras municipais não estão interessados na leitura das ruas, a menos que ela signifique votos ou vantagens. E a elite? Ah, a elite... boa parte dela blinda seus carrões, vai morar em castelos medievais e seguros chamados condomínios ou simplesmente encontra a saída no aeroporto. Grande parte da elite brasileira sempre foi covarde, desde o descobrimento do país, há 500 anos. Se resolvesse, toda ela, pegar o caminho do aeroporto, talvez fizesse um bem ao país.
O brasileiro cansou. Cansou de pagar o pato e impostos que nunca voltam em forma de benefícios. O Estado brasileiro está desacreditado. Está na lama. E, quando isso acontece, abrem-se as portas para o imprevisível. O surgimento de justiceiros é um desses fatos imprevisíveis. Se não forem contidos agora, continuaremos a ver crimes bárbaros e covardes como o de Guarujá.
Mas a falência do Estado é ainda mais perigosa.
Ela abre espaço para salvadores da pátria que, quase que surgidos do nada, prometem a redenção. Abre espaço para movimentos que pedem a volta de regimes de exceção (sim, esses movimentos estão ocorrendo). A falência do Estado mata a esperança do cidadão brasileiro num país melhor. E, sem esperança, sem Estado e sem leis, resta o vandalismo, os justiceiros, os crimes.
O Estado brasileiro está morto porque aqueles que seriam responsável pela sua existência estão, e sempre estiveram, preocupados demais em pilhar e saquear o que estiver à mão. Porque acreditam na impunidade. Acreditam na estupidez do povo. Não são capazes de perceber que o buraco é mais embaixo. São tão burros que não percebem que seria preferível dar os anéis (saúde, educação, segurança, combate à corrupção) e manter os dedos.
Ah, mas temos a Copa. Ainda bem.
sábado, 3 de maio de 2014
Plano B?
O governador Alberto Pinto Coelho (PP) tem cumprido uma agenda de candidato ao governo de Minas. Participa de inaugurações, recebe times de vôlei, anuncia investimentos em todo o estado, manda seus recados no programa semanal de rádio e tv do governo.
Coelho foi cotado para ser o pré-candidato do grupo do senador Aécio Neves ao Palácio Tiradentes. Mas, como vice de Anastasia, sua exposição era menor e seu nome acabou não emplacando.
Agora, como governador de fato e direito, está em todas. E com a máquina pública a seu lado. Pinto Coelho é político tradicional, daqueles que gostam de uma boa prosa. É conciliador e agregar nomes e partidos. O único problema é que seu partido, em nível nacional, faz parte da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT), adversária de Aécio na disputa presidencial.
Certa vez, um conhecido político de BH questionou: "E se ele, já no cargo, quiser ser candidato a governador?". Boa questão.
O fato é que Alberto está, agora, em condições de ser um plano B para o grupo de Aécio, caso o pré-candidato Pimenta da Veiga (PSDB) não decole. Sua agenda indica sinais dessa possibilidade. As pesquisas dirão.
Crédito da foto: Secom
Coelho foi cotado para ser o pré-candidato do grupo do senador Aécio Neves ao Palácio Tiradentes. Mas, como vice de Anastasia, sua exposição era menor e seu nome acabou não emplacando.
Agora, como governador de fato e direito, está em todas. E com a máquina pública a seu lado. Pinto Coelho é político tradicional, daqueles que gostam de uma boa prosa. É conciliador e agregar nomes e partidos. O único problema é que seu partido, em nível nacional, faz parte da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT), adversária de Aécio na disputa presidencial.
Certa vez, um conhecido político de BH questionou: "E se ele, já no cargo, quiser ser candidato a governador?". Boa questão.
O fato é que Alberto está, agora, em condições de ser um plano B para o grupo de Aécio, caso o pré-candidato Pimenta da Veiga (PSDB) não decole. Sua agenda indica sinais dessa possibilidade. As pesquisas dirão.
Crédito da foto: Secom
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Yes, somos todos macacos!
Sim, somos todos macacos. O deputado federal e sindicalista Paulo Pereira da Silva (SDD-SP) conclamou a multidão a dar uma "banana" (aquele gesto que se faz com os braços quando queremos xingar alguém) à presidente Dilma Rousseff (PT) nas manifestações do Dia do Trabalhador ontem, em São Paulo. Não satisfeito, ele mesmo fez o gesto.
Ora, Dilma Rousseff não é apenas a mulher Dilma. Ela representa a Presidência da República, cargo mais nobre do país. Em que pese a enxurrada de denúncias que jorram como petróleo sobre as estatais, os problemas econômicos e o cansaço da população com a ineficiência do serviço público, a presidente deve ser respeitada e poupada de gestos inúteis como o do deputado. Por mais que pareça, não somos (ainda) uma república de bananas. Dilma é a presidente do Brasil. Pode e deve ser criticada quando errar, mas desrespeitada, jamais. Desrespeitá-la com uma "banana braçal" é dar uma banana à instituição Presidência da República. Há perigo no ar quando isso começa a acontecer. E mostra que, aparentemente, somos todos mesmo macacos.
Estamos apenas no começo de uma campanha presidencial que promete ser dura e suja, principalmente nos bastidores e internet. Sim, a presidente, candidata à reeleição, precisa e deve ser cobrada por seus atos. Mas gestos como o de Paulo Pereira jogam a campanha no chão e geram mais cansaço nos eleitores.
O ex-governador Hélio Garcia gostava de repetir que na política não há espaço para gestos inúteis. O gesto do sindicalista ontem foi inútil, desnecessário e pode pesar à frente.
Crédito da foto: Twicsy.com
Crédito da foto: Twicsy.com
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Convite
Em dia de feriado, deixo aqui um texto leve, que li certa vez e desconheço o autor. Mas releio sempre que posso, para me lembrar do tamanho da grandeza humana. Espero que curtam. Vai lá:
"Não me interessa saber como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração. Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la. Quero saber se é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desaponta o outro para manter fiel a si mesmo. Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte de sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim por-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: Sim.
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem, quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa saber onde, o que ou com quem estudou, quero saber o que o sustenta, no seu intimo, quando tudo mais desmorona. Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo, e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia."
"Não me interessa saber como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração. Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la. Quero saber se é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desaponta o outro para manter fiel a si mesmo. Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte de sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim por-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: Sim.
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem, quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa saber onde, o que ou com quem estudou, quero saber o que o sustenta, no seu intimo, quando tudo mais desmorona. Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo, e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia."
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