Paulo Paiva em Blog
Notícias e análises sobre política e economia
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Em Minas, tudo é possível
Os dois principais candidatos ao governo de Minas, Fernando Pimentel (PT) - na foto à direita - e Pimenta da Veiga (PSDB) - à esquerda - estão tocando o bumbo de forma diferente nesse início de campanha.
Pimentel, que lidera as pesquisas com uma frente de aproximadamente 10 pontos percentuais, faz o que deve fazer: está mostrando seu cartão de visitas, ou seja, o que fez quando ocupou a Prefeitura de Belo Horizonte. Há obras sociais e de infraestrutura importantes que foram efetivamente realizadas na gestão do petista e outras que foram complementadas pelo seu sucessor, o atual prefeito Márcio Lacerda (PSB).
Também acerta quando mostra que parte dos projetos e ideias adotadas quando foi prefeito podem ser levadas, de alguma forma, ao interior. E se apega em parte do legado da desgastada presidente Dilma Rousseff (PT), como o projeto Minha Casa, Minha Vida. Ao mostrar o que fez em BH e o que pode fazer em Minas, mantém a campanha com foco no plano estadual.
Já Pimenta parece ter optado por nacionalizar a campanha. Tem abordado com frequência temas como inflação e outros que, certamente, farão parte do debate da campanha presidencial. A ideia parece ser fazer com que o eleitor associe Pimentel à inflação e à presidente Dilma, colando nele o desgaste que a má fase da economia brasileira vive. É, como diria o ex-governador Hélio Garcia, uma faca de dois legumes. A estratégia tanto pode funcionar como pode passar a imagem que Pimenta não tem ainda, efetivamente, propostas para Minas Gerais.
Pimenta, aliás, ainda é uma incógnita política. Foi retirado pelo senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, de seu retiro político de quase vinte anos e de sua vida como advogado em Brasília, onde residiu durante todo esse tempo. De Brasília, surgiu em Minas como candidato de Aécio ao governo do Estado. O senador mineiro teria outras opções em seu grupo político, como o próprio governador Alberto Pinto Coelho (PP) e o candidato a vice na chapa de Pimenta, Dinis Pinheiro (PP), campeão de votos no estado. Por que escolheu Pimenta? É aí que a política mineira vira uma chapa quente.
Da forma como vem conduzindo sua campanha, Pimenta serve mais como uma alavanca para a campanha presidencial de Aécio do que para vencer efetivamente a disputa contra seu adversário. Ao colocar em debate os erros do PT na economia nacional, que está praticamente parada, oferece munição a Aécio, que enfrentará a presidente Dilma Rousseff na disputa pelo Palácio do Planalto. Pimenta nacionalizou a disputa. Pimentel puxa o debate para as questões mineiras.
É verdade que Pimenta não tem muito o que mostrar aos mineiros. Ficou pouco tempo à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, de onde saiu como candidato ao governo de Minas, em 1990. Chegou em terceiro lugar na disputa. Foi deputado e ministro de FHC, mas os mineiros mais novos praticamente não o conhecem, como as pesquisas já mostraram. Mas está deixando de usar sua principal arma: a maioria dos mineiros aprovam a gestão tucana no estado e gostam de morar aqui. Programas como o Caminhos de Minas deram resultados, bem como outros na área social, como o Mães de Minas, e na educação básica. Por que, então, levar o debate para o plano nacional? Seria uma tentativa, neste primeiro momento, de mostrar ao eleitor qual são os campos da situação e da oposição?
Pimenta não é muito afeito a campanhas desgastantes. Em 1990, seus assessores queixaram-se de que o candidato praticamente havia sumido da campanha por motivos pessoais, desmarcando compromissos previamente assumidos. Atualmente, alguns assessores já se queixam de que ele se recusa a dar entrevistas a rádios e outros veículos de imprensa. Estranho para um candidato que está 10 pontos percentual abaixo de seu oponente. Ou é excesso de confiança no grupo político de Aécio ou há, por trás de tudo, alguma estratégia que até agora não veio à tona.
Em Minas, tudo é possível. Aécio e Pimentel estiveram juntos, lado a lado, no apoio à eleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), em 2008. Naquele ano, Pimentel era o prefeito e ala mais à esquerda do PT nunca engoliu a aliança com Aécio. Lacerda governou com o PT de Pimentel. O partido fez parte da administração municipal até os 45 minutos do segundo tempo, quando então decidiu descer do barco e lançar a candidatura de Patrus Ananias à PBH en 2012. Patrus foi derrotado no primeiro turno por Lacerda e Aécio e hoje, candidato a deputado, tem acompanhado Pimentel em suas andanças de campanha. Ah: Aécio mantém com Lula uma relação cordial.
Mas há algo de estranho no ar. Algumas pontas da campanha eleitoral em Minas ainda estão soltas e sem respostas. E, de fato, em Minas tudo é possível.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
A Copa começou!
O título deste post não se refere, obviamente, à Copa de futebol da Fifa, que terminou de forma vexatória para a seleção brasileira.
Falo da verdadeira Copa que o Brasil terá de enfrentar de maneira corajosa daqui para frente.
Há a Copa da economia. Temos de descobrir o esquema tático mais adequado para reduzir a inflação, dar competitividade à indústria nacional e manter a nova classe média viva, já que o dragão inflacionário ameaça devolver, à classe D, 10 milhões de brasileiros que acabaram de chegar à C. Não há muito o que fazer nesse caso: é preciso cortar gastos da máquina pública e coragem para fazer uma reforma tributária que seja capaz de aliviar o setor produtivo e redistribuir, de forma mais justa, o dinheiro da arrecadação de impostos entre estados, município e União. Hoje, praticamente toda a arrecadação é centralizada na União. Temos uma federação de mentirinha.
Há a Copa da educação. Não basta apenas abrir faculdades e formar profissionais incapazes de lidar, de forma satisfatória, com a rotina diária de seu trabalho. Se não fizermos um pacto para investir na educação de base, em nossas crianças, não chegaremos a lugar algum. Hoje, somos um país de analfabetos funcionais. E temos um exército de oito milhões de pessoas que não têm qualquer chance de chegar ao mercado de trabalho.
Há a Copa da saúde, que estamos perdendo de goleada. E não é por falta de recursos. É por falta de gestão, planejamento e profissionalismo por parte da esfera pública.
Há a Copa da infraestrutura, que vem nos aplicando uma goleada maior do que a imposta pelos 7 a 1 da Alemanha. Temos gargalos em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. A questão energética parece uma bomba pronta para explodir. A principal alavanca da economia, que tem sido o agronegócio, sofre dos dois lados. De um, não tem estradas ou portos para exportar o que produz da porteira para dentro. De outro, insumos como energia pesam cada vez mais na horta do produtor.
Há a Copa da corrupção. Precisamos vencer a cultura que vem do Brasil colonial, de que a corrupção é o único caminho a seguir. Precisamos punir e vencer a corrupção, que rouba bilhões de reais do país todos os anos. No Brasil de séculos atrás, trabalho era desonra. Nobres e filhos de famílias ricas não trabalhavam, ou só trabalhavam depois de formados na Europa. O que temos, na verdade, não é complexo de vira-lata. É complexo de nobreza.
Enfim, há um país esperando para ser construído. Avançamos alguma coisa nos últimos anos, mas tudo pode ser perder se fizermos, agora, as escolhas erradas na economia, na educação, na infraestrutura.
Países que durante décadas estiveram bem atrás do Brasil, como Colômbia, castigada durante anos pelo narcotráfico e guerrilha, e México, estão se tornando mais competitivos do que o Brasil. E até o Paraguai - pasmem - foi capaz de criar um sistema tributário simples e eficaz, que está revolucionando o país. Em breve, o Paraguai deixará de ser sinônimo de produtos importados de baixa qualidade e será um dos destaques da economia sul-americana. A reforma tributária no país vizinho, levada a cabo de forma silenciosa, conseguiu desestimular a sonegação e está atraindo indústrias, inclusive brasileiras, para seu território.
Teremos duas décadas decisivas à frente. Neste período, ou nos firmaremos no cenário global como uma potência econômica ou cairemos definitivamente no ostracismo e na irrelevância de exportador de commodities.
Tudo depende das nossas escolhas. As escolhas que a nascente sociedade brasileira, que deu as caras em junho do ano passado, fará daqui para frente.
Me espanta ainda ver tanta gente, que deveria ser luz para a sociedade, falando em "coxinhas", luta de classes, retrocessos.
Me espanta ainda ver tanta ignorância, tanta cegueira, tanta idiotice.
Me espanta ver uma classe política mais interessada no bolso do que no futuro do país. Se o Brasil perder esse bonde da história, não haverá volta. Estaremos condenados a sermos todos "coxinhas" sem recheio.
O mundo ainda espera que o Brasil ocupe o espaço que lhe cabe na nova ordem econômica mundial. Mas não esperará para sempre. Não existe vácuo. Outras nações, talvez mais inteligentes, ocuparão nosso lugar.
Essa é a verdadeira Copa do Mundo.
Falo da verdadeira Copa que o Brasil terá de enfrentar de maneira corajosa daqui para frente.
Há a Copa da economia. Temos de descobrir o esquema tático mais adequado para reduzir a inflação, dar competitividade à indústria nacional e manter a nova classe média viva, já que o dragão inflacionário ameaça devolver, à classe D, 10 milhões de brasileiros que acabaram de chegar à C. Não há muito o que fazer nesse caso: é preciso cortar gastos da máquina pública e coragem para fazer uma reforma tributária que seja capaz de aliviar o setor produtivo e redistribuir, de forma mais justa, o dinheiro da arrecadação de impostos entre estados, município e União. Hoje, praticamente toda a arrecadação é centralizada na União. Temos uma federação de mentirinha.
Há a Copa da educação. Não basta apenas abrir faculdades e formar profissionais incapazes de lidar, de forma satisfatória, com a rotina diária de seu trabalho. Se não fizermos um pacto para investir na educação de base, em nossas crianças, não chegaremos a lugar algum. Hoje, somos um país de analfabetos funcionais. E temos um exército de oito milhões de pessoas que não têm qualquer chance de chegar ao mercado de trabalho.
Há a Copa da saúde, que estamos perdendo de goleada. E não é por falta de recursos. É por falta de gestão, planejamento e profissionalismo por parte da esfera pública.
Há a Copa da infraestrutura, que vem nos aplicando uma goleada maior do que a imposta pelos 7 a 1 da Alemanha. Temos gargalos em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. A questão energética parece uma bomba pronta para explodir. A principal alavanca da economia, que tem sido o agronegócio, sofre dos dois lados. De um, não tem estradas ou portos para exportar o que produz da porteira para dentro. De outro, insumos como energia pesam cada vez mais na horta do produtor.
Há a Copa da corrupção. Precisamos vencer a cultura que vem do Brasil colonial, de que a corrupção é o único caminho a seguir. Precisamos punir e vencer a corrupção, que rouba bilhões de reais do país todos os anos. No Brasil de séculos atrás, trabalho era desonra. Nobres e filhos de famílias ricas não trabalhavam, ou só trabalhavam depois de formados na Europa. O que temos, na verdade, não é complexo de vira-lata. É complexo de nobreza.
Enfim, há um país esperando para ser construído. Avançamos alguma coisa nos últimos anos, mas tudo pode ser perder se fizermos, agora, as escolhas erradas na economia, na educação, na infraestrutura.
Países que durante décadas estiveram bem atrás do Brasil, como Colômbia, castigada durante anos pelo narcotráfico e guerrilha, e México, estão se tornando mais competitivos do que o Brasil. E até o Paraguai - pasmem - foi capaz de criar um sistema tributário simples e eficaz, que está revolucionando o país. Em breve, o Paraguai deixará de ser sinônimo de produtos importados de baixa qualidade e será um dos destaques da economia sul-americana. A reforma tributária no país vizinho, levada a cabo de forma silenciosa, conseguiu desestimular a sonegação e está atraindo indústrias, inclusive brasileiras, para seu território.
Teremos duas décadas decisivas à frente. Neste período, ou nos firmaremos no cenário global como uma potência econômica ou cairemos definitivamente no ostracismo e na irrelevância de exportador de commodities.
Tudo depende das nossas escolhas. As escolhas que a nascente sociedade brasileira, que deu as caras em junho do ano passado, fará daqui para frente.
Me espanta ainda ver tanta gente, que deveria ser luz para a sociedade, falando em "coxinhas", luta de classes, retrocessos.
Me espanta ainda ver tanta ignorância, tanta cegueira, tanta idiotice.
Me espanta ver uma classe política mais interessada no bolso do que no futuro do país. Se o Brasil perder esse bonde da história, não haverá volta. Estaremos condenados a sermos todos "coxinhas" sem recheio.
O mundo ainda espera que o Brasil ocupe o espaço que lhe cabe na nova ordem econômica mundial. Mas não esperará para sempre. Não existe vácuo. Outras nações, talvez mais inteligentes, ocuparão nosso lugar.
Essa é a verdadeira Copa do Mundo.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Procura-se Alexandre, o Grande
Diz a lenda que Alexandre, o Grande, deparou-se um dia com um desafio: desatar o nó inventado por Górdio, e que até então ninguém havia conseguido desfazer. Alexandre analisou o nó.... e, com um simples golpe de espada, rompeu-o (a ilustração ao lado retrata o fato).
Estamos hoje inebriados pela Copa, mas a economia vai cobrar a fatura com o fim do torneio, seja o Brasil campeão ou não. E há um nó górdio na economia.
Os brasileiros (pessoa física) estão devendo hoje R$ 1,3 trilhão, segundo dados do Banco Central (BC). Esse valor significa tudo que os brasileiros devem ao sistema financeiro, entre cheque especial, empréstimos consignados, etc. O consignado, aliás, já bateu em R$ 235 bilhões. O nó da economia, portanto, é o nó que está no pescoço dos endividados.
Olhando os números de forma fria, pode-se dizer que a taxa de endividamento na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de mais de R$ 2 trilhões, ainda não assusta. Mas quem está com a corda no pescoço sabe onde o calo dói. E é sempre bom lembrar que 55 milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça por não conseguirem honrar suas dívidas. Quando empresas acumulam dívidas, o governo lança Refis para ajudar no pagamento. Os consumidores brasileiros, pessoa física, estão precisando de um grande Refis.
O fato é que o modelo de crescimento impulsionado nos últimos anos por crédito fácil e consumo esgotou-se. Ele foi importante, mas deveria vir acompanhado de outras medidas que foram deixadas de lado. O resultado, todo mundo já sabe: o país está parado. O crescimento econômico desse ano, segundo as previsões mais otimistas, chegará a 1% - ou menos. A indústria automobilística já está demitindo. Outros setores industriais, espremidos por uma carga tributária hexacampeã, também estão parando. O que segura a economia, neste momento, é a agricultura e a exportação de commodities, como minério de ferro e grãos.
Endividado e com receio de desemprego, o consumidor fica desconfiado e para de comprar. E vê a inflação, domada há 20 anos pelo Plano Real - e ressuscitada agora - , corroer seu salário dia a dia. O remédio é amargo: o BC já jogou os juros em 11% ao ano (taxa Selic) para conter consumo e inflação - e seus diretores dizem que, quanto menos consumo, melhor. É a confissão oficial de que o modelo atual está esgotado. Sem consumo, o comércio se retrai e a indústria, que já está parada, cancela investimentos. Este é, resumidamente, o cenário com o qual os candidatos ao Palácio do Planalto (a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) terão de lidar.
A campanha está começando agora e ainda não surgiram propostas para desatar o nó górdio da economia. Não se sabe, por exemplo, se a proposta da presidente Dilma é manter o modelo atual ou mudar alguma coisa - se a opção for por mudança, ela já poderia ter começado a fazê-las, já que está na cadeira de presidente e tem a caneta na mão. Aécio fala em repetir o choque de gestão mineiro e reduzir ministérios e gastos da máquina pública, além de reforma tributária. Campos ainda é uma incógnita.
O que se sabe é que o fim de 2014 e os primeiros meses de 2015 serão particularmente duros. O quadro de incertezas deverá perdurar até lá, bem como a estagnação da economia com inflação em alta - o pior dos mundos. O novo presidente, seja quem for, terá de tomar medidas fortes para desatar o nó górdio da economia. Terá de ser duro com a inflação e com gastos desnecessários, como os quase 40 ministérios atuais, criados para abrigar aliados políticos. Terá de definir a nova política para o salário mínimo e ter vontade política para uma ampla reforma tributária, que dê à indústria nacional condições de competir em pé de igualdade com os concorrentes estrangeiros. Hoje, a indústria brasileira só é competitiva na América do Sul - e, mesmo assim, nosso principal parceiro comercial, a Argentina, está quebrada.
Precisamos de um Alexandre, o Grande, para desatar esse nó.
Estamos hoje inebriados pela Copa, mas a economia vai cobrar a fatura com o fim do torneio, seja o Brasil campeão ou não. E há um nó górdio na economia.
Os brasileiros (pessoa física) estão devendo hoje R$ 1,3 trilhão, segundo dados do Banco Central (BC). Esse valor significa tudo que os brasileiros devem ao sistema financeiro, entre cheque especial, empréstimos consignados, etc. O consignado, aliás, já bateu em R$ 235 bilhões. O nó da economia, portanto, é o nó que está no pescoço dos endividados.
Olhando os números de forma fria, pode-se dizer que a taxa de endividamento na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de mais de R$ 2 trilhões, ainda não assusta. Mas quem está com a corda no pescoço sabe onde o calo dói. E é sempre bom lembrar que 55 milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça por não conseguirem honrar suas dívidas. Quando empresas acumulam dívidas, o governo lança Refis para ajudar no pagamento. Os consumidores brasileiros, pessoa física, estão precisando de um grande Refis.
O fato é que o modelo de crescimento impulsionado nos últimos anos por crédito fácil e consumo esgotou-se. Ele foi importante, mas deveria vir acompanhado de outras medidas que foram deixadas de lado. O resultado, todo mundo já sabe: o país está parado. O crescimento econômico desse ano, segundo as previsões mais otimistas, chegará a 1% - ou menos. A indústria automobilística já está demitindo. Outros setores industriais, espremidos por uma carga tributária hexacampeã, também estão parando. O que segura a economia, neste momento, é a agricultura e a exportação de commodities, como minério de ferro e grãos.
Endividado e com receio de desemprego, o consumidor fica desconfiado e para de comprar. E vê a inflação, domada há 20 anos pelo Plano Real - e ressuscitada agora - , corroer seu salário dia a dia. O remédio é amargo: o BC já jogou os juros em 11% ao ano (taxa Selic) para conter consumo e inflação - e seus diretores dizem que, quanto menos consumo, melhor. É a confissão oficial de que o modelo atual está esgotado. Sem consumo, o comércio se retrai e a indústria, que já está parada, cancela investimentos. Este é, resumidamente, o cenário com o qual os candidatos ao Palácio do Planalto (a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) terão de lidar.
A campanha está começando agora e ainda não surgiram propostas para desatar o nó górdio da economia. Não se sabe, por exemplo, se a proposta da presidente Dilma é manter o modelo atual ou mudar alguma coisa - se a opção for por mudança, ela já poderia ter começado a fazê-las, já que está na cadeira de presidente e tem a caneta na mão. Aécio fala em repetir o choque de gestão mineiro e reduzir ministérios e gastos da máquina pública, além de reforma tributária. Campos ainda é uma incógnita.
O que se sabe é que o fim de 2014 e os primeiros meses de 2015 serão particularmente duros. O quadro de incertezas deverá perdurar até lá, bem como a estagnação da economia com inflação em alta - o pior dos mundos. O novo presidente, seja quem for, terá de tomar medidas fortes para desatar o nó górdio da economia. Terá de ser duro com a inflação e com gastos desnecessários, como os quase 40 ministérios atuais, criados para abrigar aliados políticos. Terá de definir a nova política para o salário mínimo e ter vontade política para uma ampla reforma tributária, que dê à indústria nacional condições de competir em pé de igualdade com os concorrentes estrangeiros. Hoje, a indústria brasileira só é competitiva na América do Sul - e, mesmo assim, nosso principal parceiro comercial, a Argentina, está quebrada.
Precisamos de um Alexandre, o Grande, para desatar esse nó.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Aécio busca vice em São Paulo
O senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, anunciou na manhã de hoje que seu vice será o também senador Aloysio Nunes (PSDB), de São Paulo, um nome de confiança de José Serra (PSDB). Será uma chapa puro-sangue, totalmente tucana. É fato que a escolha de Nunes deve-se, em parte, ao fato de que Aécio não conseguiu trazer para seu lado, oficialmente, os partidos que gostaria de ter em sua aliança, como o PP - embora essa legenda esteja literalmente rachada em todo o país. Aqui mesmo, em Minas, o governador Alberto Pinto Coelho, aliado de Aécio, é do PP.
Mas a escolha de Nunes tem também um forte componente estratégico: traz para Aécio as principais lideranças tucanas de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Dessa forma, o senador mineiro se fortalece nos três grandes colégios eleitorais brasileiros - São Paulo, Minas e Rio, estado onde fará aliança com o governador Pezão, do PMDB - partido que, em plano nacional, apoia a presidente Dilma Rousseff (PT).
Transcrevo, abaixo, post publicado neste blog em 12 de maio, ressaltando as nuances que regem a escolha dos vices.
"Se Aécio tiver como vice um nome forte e com penetração em São Paulo, trará para si os dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), aumentando suas chances nas eleições. Se o tucano tiver forte votação nesses dois estados, dificilmente deixará de ir ao segundo turno. E terá o PSDB realmente unido em torno de seu nome.
A estratégia dos vices é vital para as chances de vitória numa eleição presidencial. Usa-se o cargo para atrair um partido ou uma determinada região.
Tancredo Neves trouxe José Sarney como vice para aplacar os atritos com a ala mais dura dos quartéis. Collor buscou Itamar Franco para ganhar penetração em Minas Gerais e legitimar seu nome no meio político. Fernando Henrique Cardoso buscou seus vices no Nordeste para se fortalecer na região. Lula foi atrás de José Alencar para selar a aliança entre capital e trabalho e se fortalecer em Minas. A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, correu atrás de um vice do PMDB para contar com a sigla na base aliada e ganhar tempo precioso na TV. Se fechar com algum político paulista como vice, Aécio poderá desagradar um ou outro partido ou aliado, mas terá um cenário eleitoral favorável.
Dificilmente o tucano conseguirá grande votação no Nordeste, área dominada pelo Bolsa Família do PT e região do governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Já num eventual segundo turno com Dilma, a coisa mudaria de figura. Aécio provavelmente teria o apoio de Campos e, consequentemente, mais votos no Nordeste. No Sul do país, a situação se embaralha. Embora seja mineira de nascimento, a presidente Dilma Rousseff (PT) é gaúcha de história e coração e deverá liderar a votação na região.
Por isso, Aécio precisa de São Paulo. Precisa dos eleitores de São Paulo. Precisa do PSDB unido em torno de seu nome. E o PSDB, por sua vez, terá nessa eleição uma chance real de vitória, já que a avaliação do governo da presidente Dilma está arranhada. O tucano ainda tem um mês para costurar o nome do vice. Dilma também, mas permanece amarrada no PMDB. E Campos já tem uma vice, Marina Silva. O jogo está interessante."
Mas a escolha de Nunes tem também um forte componente estratégico: traz para Aécio as principais lideranças tucanas de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Dessa forma, o senador mineiro se fortalece nos três grandes colégios eleitorais brasileiros - São Paulo, Minas e Rio, estado onde fará aliança com o governador Pezão, do PMDB - partido que, em plano nacional, apoia a presidente Dilma Rousseff (PT).
Transcrevo, abaixo, post publicado neste blog em 12 de maio, ressaltando as nuances que regem a escolha dos vices.
"Se Aécio tiver como vice um nome forte e com penetração em São Paulo, trará para si os dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), aumentando suas chances nas eleições. Se o tucano tiver forte votação nesses dois estados, dificilmente deixará de ir ao segundo turno. E terá o PSDB realmente unido em torno de seu nome.
A estratégia dos vices é vital para as chances de vitória numa eleição presidencial. Usa-se o cargo para atrair um partido ou uma determinada região.
Tancredo Neves trouxe José Sarney como vice para aplacar os atritos com a ala mais dura dos quartéis. Collor buscou Itamar Franco para ganhar penetração em Minas Gerais e legitimar seu nome no meio político. Fernando Henrique Cardoso buscou seus vices no Nordeste para se fortalecer na região. Lula foi atrás de José Alencar para selar a aliança entre capital e trabalho e se fortalecer em Minas. A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, correu atrás de um vice do PMDB para contar com a sigla na base aliada e ganhar tempo precioso na TV. Se fechar com algum político paulista como vice, Aécio poderá desagradar um ou outro partido ou aliado, mas terá um cenário eleitoral favorável.
Dificilmente o tucano conseguirá grande votação no Nordeste, área dominada pelo Bolsa Família do PT e região do governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Já num eventual segundo turno com Dilma, a coisa mudaria de figura. Aécio provavelmente teria o apoio de Campos e, consequentemente, mais votos no Nordeste. No Sul do país, a situação se embaralha. Embora seja mineira de nascimento, a presidente Dilma Rousseff (PT) é gaúcha de história e coração e deverá liderar a votação na região.
Por isso, Aécio precisa de São Paulo. Precisa dos eleitores de São Paulo. Precisa do PSDB unido em torno de seu nome. E o PSDB, por sua vez, terá nessa eleição uma chance real de vitória, já que a avaliação do governo da presidente Dilma está arranhada. O tucano ainda tem um mês para costurar o nome do vice. Dilma também, mas permanece amarrada no PMDB. E Campos já tem uma vice, Marina Silva. O jogo está interessante."
Agora, os times estão completos: Nunes é o vice de Aécio, Michel Temer é o de Dilma, e Marina Silva a de Eduardo Campos. O jogo vai começar realmente.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Batalhas
Há batalhas para todos os gostos na próxima campanha eleitoral, tanto para Presidência da República como para governos estaduais.
No caso da presidência, a batalha mais feroz será a que a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, terá de travar contra o esfriamento da economia.
Ontem, o Banco Central (BC), autoridade monetária do país, praticamente jogou a toalha na luta contra a inflação.
O que disse o BC? Que o Brasil crescerá apenas 1,6% este ano, e que a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial do país - vai romper o teto da meta (que é de 6,5% ao ano), chegando a 6,6%, mesmo com a taxa Selic (taxa básica de juros do país) em dois dígitos (11%). A meta de inflação não estourava desde 2003.
Mas o recado do BC foi mais duro. Na verdade, a aposta da autoridade monetária para domar a inflação é que, com juros altos, a economia realmente esfrie - e, aí, os preços cairão. Na avaliação do BC, portanto, o que temos é uma inflação por demanda - ou seja, os preços estão altos porque as pessoas estão comprando muito. O curioso é que foi o próprio governo que estimulou o consumo desenfreado, principalmente ao reduzir impostos de automóveis e eletrodomésticos. "Quanto menos as pessoas consumirem, mais os preços cairão", disse ontem, didaticamente e com todas as letras, o diretor de Política Econômica do BC, Hamilton Araújo. Seria interessante saber o que a presidente Dilma achou de tal comentário em pleno ano eleitoral.
Temos, então, o seguinte quadro na economia: o governo estimulou o consumo para aquecer a economia, mas não formulou qualquer política industrial. Arrochada por impostos e juros altos, a indústria brasileira perdeu competitividade e não consegue vender nem no mercado interno, que vem sendo abastecido por produtos importados (até aço colombiano já está chegando aqui) e nem no exterior. O resultado foi um rombo externo recorde em maio. Na outra ponta, o consumidor sequer precisava de juros altos para parar de consumir. Ele endividou-se tanto nos últimos anos, estimulado por bancos e políticas oficiais de crédito, que a corda apertou no pescoço. Cinquenta e cinco milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça. E, mesmo com todo o esforço do BC, a inflação continuará alta. Segundo estimativas do próprio BC, se tudo der certo, a inflação estará rodando em 5,1% ao ano em.... 2016. Sim, o PT ressuscitou a inflação, que, por si, representa um arrocho no salário do trabalhador, e deu munição para que o BC tomasse (como tomou) medidas duras e amargas para esfriar uma economia que já estava morna. É o presente, e não o passado, que assusta.
O que fazer num cenário como esse? Para derrubar a inflação, o principal é cortar gastos da inchada máquina administrativa, com quase 40 ministérios para abrigar partidos aliados. São os gastos do governo, que não param de crescer, que pressionam a inflação. É necessário também dar competitividade à indústria brasileira, principalmente na questão tributária e de infraestrutura. Os empresários brasileiros já cansaram de dizer que não querem privilégios. Querem apenas ter as mesmas condições das indústrias de outros países para competir.
Por que cargas d'água o aço colombiano está mais competitivo no mercado brasileiro do que o aço produzido no Brasil? Impostos. E porque os impostos no Brasil são tão altos? Para bancar a máquina administrativa. É um nó górdio. A campanha de Dilma terá que dar algumas respostas a esses nós, a todos nós.
No outro canto do ringue, a oposição terá que convencer o eleitor que tem as respostas de que o país precisa para continuar avançando. Mas não se iludam. Não teremos uma batalha racional entre situação e oposição. Teremos uma batalha profundamente emocional, de pele, de alma, onde que o que há a ser conquistado é o coração do eleitor. Ele, o eleitor, está ansioso por confiança e esperança.
O cenário nacional terá reflexos diretos em Minas Gerais, terra de um candidato presidencial. Aqui, Pimenta da Veiga, o candidato do grupo de Aécio, tem um trunfo poderoso nas mãos. Seguindo pesquisas realizadas recentemente (e já divulgadas neste blog), mais de 70% dos mineiros gostam de morar em Minas, o que pode ser interpretado como um sinal de aprovação às últimas administrações estaduais. As batalhas de Pimenta serão tornar-se conhecido entre os eleitores, principalmente os mais jovens, que até então nunca haviam ouvido falar em seu nome, e traduzir essa satisfação dos mineiros em votos. Para isso, precisará de todo o apoio do grupo político de Aécio, já que ele mesmo, Pimenta, há anos abandonou a política e o próprio estado, ao fixar residência em Brasília.
As batalhas de Fernando Pimentel, o candidato do PT, serão outras. Como ex-prefeito de BH e ex-ministro de Dilma, Pimentel é um nome conhecido na maior parte do estado. Está na frente nas pesquisas eleitorais. É um bom administrador, como mostrou em BH. Mas a companheira Dilma deixou de cumprir uma série de promessas feitas aos mineiros, principalmente em obras de infraestrutura. Não há em Minas uma única grande obra que possa ser creditada ao governo federal - ao contrário de outros estados aliados do PT. Isso já está sendo utilizado como uma arma contra o petista nas propagandas eleitorais.
Pimentel terá também de unir o PT e mobilizar a militância, além de evitar polêmicas públicas como os recentes elogios ao ex-governador Newton Cardoso (PMDB), que sofre de forte rejeição em alguns colégios eleitorais importantes do estado, como Belo Horizonte - elogios que também já estão sendo utilizados contra ele nas propagandas eleitorais. Parece que ainda falta ao petista um bom estrategista político.
As batalhas estão apenas começando. Muito sangue vai rolar ainda.
Crédito da foto: Os 300 de Esparta, desenho de Frank Miller, editora Abril
No caso da presidência, a batalha mais feroz será a que a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, terá de travar contra o esfriamento da economia.
Ontem, o Banco Central (BC), autoridade monetária do país, praticamente jogou a toalha na luta contra a inflação.
O que disse o BC? Que o Brasil crescerá apenas 1,6% este ano, e que a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial do país - vai romper o teto da meta (que é de 6,5% ao ano), chegando a 6,6%, mesmo com a taxa Selic (taxa básica de juros do país) em dois dígitos (11%). A meta de inflação não estourava desde 2003.
Mas o recado do BC foi mais duro. Na verdade, a aposta da autoridade monetária para domar a inflação é que, com juros altos, a economia realmente esfrie - e, aí, os preços cairão. Na avaliação do BC, portanto, o que temos é uma inflação por demanda - ou seja, os preços estão altos porque as pessoas estão comprando muito. O curioso é que foi o próprio governo que estimulou o consumo desenfreado, principalmente ao reduzir impostos de automóveis e eletrodomésticos. "Quanto menos as pessoas consumirem, mais os preços cairão", disse ontem, didaticamente e com todas as letras, o diretor de Política Econômica do BC, Hamilton Araújo. Seria interessante saber o que a presidente Dilma achou de tal comentário em pleno ano eleitoral.
Temos, então, o seguinte quadro na economia: o governo estimulou o consumo para aquecer a economia, mas não formulou qualquer política industrial. Arrochada por impostos e juros altos, a indústria brasileira perdeu competitividade e não consegue vender nem no mercado interno, que vem sendo abastecido por produtos importados (até aço colombiano já está chegando aqui) e nem no exterior. O resultado foi um rombo externo recorde em maio. Na outra ponta, o consumidor sequer precisava de juros altos para parar de consumir. Ele endividou-se tanto nos últimos anos, estimulado por bancos e políticas oficiais de crédito, que a corda apertou no pescoço. Cinquenta e cinco milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça. E, mesmo com todo o esforço do BC, a inflação continuará alta. Segundo estimativas do próprio BC, se tudo der certo, a inflação estará rodando em 5,1% ao ano em.... 2016. Sim, o PT ressuscitou a inflação, que, por si, representa um arrocho no salário do trabalhador, e deu munição para que o BC tomasse (como tomou) medidas duras e amargas para esfriar uma economia que já estava morna. É o presente, e não o passado, que assusta.
O que fazer num cenário como esse? Para derrubar a inflação, o principal é cortar gastos da inchada máquina administrativa, com quase 40 ministérios para abrigar partidos aliados. São os gastos do governo, que não param de crescer, que pressionam a inflação. É necessário também dar competitividade à indústria brasileira, principalmente na questão tributária e de infraestrutura. Os empresários brasileiros já cansaram de dizer que não querem privilégios. Querem apenas ter as mesmas condições das indústrias de outros países para competir.
Por que cargas d'água o aço colombiano está mais competitivo no mercado brasileiro do que o aço produzido no Brasil? Impostos. E porque os impostos no Brasil são tão altos? Para bancar a máquina administrativa. É um nó górdio. A campanha de Dilma terá que dar algumas respostas a esses nós, a todos nós.
No outro canto do ringue, a oposição terá que convencer o eleitor que tem as respostas de que o país precisa para continuar avançando. Mas não se iludam. Não teremos uma batalha racional entre situação e oposição. Teremos uma batalha profundamente emocional, de pele, de alma, onde que o que há a ser conquistado é o coração do eleitor. Ele, o eleitor, está ansioso por confiança e esperança.
O cenário nacional terá reflexos diretos em Minas Gerais, terra de um candidato presidencial. Aqui, Pimenta da Veiga, o candidato do grupo de Aécio, tem um trunfo poderoso nas mãos. Seguindo pesquisas realizadas recentemente (e já divulgadas neste blog), mais de 70% dos mineiros gostam de morar em Minas, o que pode ser interpretado como um sinal de aprovação às últimas administrações estaduais. As batalhas de Pimenta serão tornar-se conhecido entre os eleitores, principalmente os mais jovens, que até então nunca haviam ouvido falar em seu nome, e traduzir essa satisfação dos mineiros em votos. Para isso, precisará de todo o apoio do grupo político de Aécio, já que ele mesmo, Pimenta, há anos abandonou a política e o próprio estado, ao fixar residência em Brasília.
As batalhas de Fernando Pimentel, o candidato do PT, serão outras. Como ex-prefeito de BH e ex-ministro de Dilma, Pimentel é um nome conhecido na maior parte do estado. Está na frente nas pesquisas eleitorais. É um bom administrador, como mostrou em BH. Mas a companheira Dilma deixou de cumprir uma série de promessas feitas aos mineiros, principalmente em obras de infraestrutura. Não há em Minas uma única grande obra que possa ser creditada ao governo federal - ao contrário de outros estados aliados do PT. Isso já está sendo utilizado como uma arma contra o petista nas propagandas eleitorais.
Pimentel terá também de unir o PT e mobilizar a militância, além de evitar polêmicas públicas como os recentes elogios ao ex-governador Newton Cardoso (PMDB), que sofre de forte rejeição em alguns colégios eleitorais importantes do estado, como Belo Horizonte - elogios que também já estão sendo utilizados contra ele nas propagandas eleitorais. Parece que ainda falta ao petista um bom estrategista político.
As batalhas estão apenas começando. Muito sangue vai rolar ainda.
Crédito da foto: Os 300 de Esparta, desenho de Frank Miller, editora Abril
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Aconteceu de novo
Aconteceu de novo.
Foi na segunda-feira, durante o jogo entre Brasil e Camarões, no estádio Mané Garrincha, em Brasília (foto Agência Brasil).
Após o quarto gol do Brasil (a seleção venceu por 4x1), torcedores presentes no estádio voltaram a xingar a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.
O mesmo xingamento tosco já usado na partida de abertura da Copa, entre Brasil e Croácia.
Os xingamentos, por piores que sejam, trazem uma lição: a de que a insatisfação com a presidente Dilma não foi amortecida pelos bons resultados da seleção brasileira. De fato, Dilma nunca esteve tão mal avaliada pela população.
O índice de rejeição da presidente (ou seja, quem não votaria nela de forma alguma), segundo pesquisas já divulgadas, atinge 42%. Nunca antes na história desse país um governante com mais de 40% foi reeleito ou elegeu o sucessor. A intenções de voto na presidente estão oscilando, mas já chegaram a bater em 33%, o que também acende a luz amarela no Planalto.
Há outra lição aí: a sociedade brasileira, já amadurecida, aprendeu a separar futebol e eleições.
Na hora da Copa, ela torce e vibra pelo Brasil.
Mas não se esquece de que a fatura da Copa vai chegar e que o país da Copa vai mal das pernas quando o negócio é serviço público e economia.
As últimas notícias da economia não são boas para o país. Não são boas para nenhum brasileiro.
Dados divulgados ontem mostram que saldo líquido de vagas de trabalho com carteira assinada em maio é o pior resultado para o mês nos últimos 22 anos. A anemia da indústria brasileira é a principal responsável pelo resultado. O saldo (58,8 vagas) é quase 20% menor do que maio de 2013 (e em ano de Copa do Mundo). A indústria de transformação apresentou saldo negativo de 22.533 postos de trabalho.
Tudo isso é reflexo de uma política econômica errática, que privilegiou o consumo mas se esqueceu de fortalecer quem garante o consumo: a indústria nacional, sufocada por impostos e burocracia.
Sem competitividade, a indústria brasileira viu a ânsia de consumo dos brasileiros ser atendida por produtos importados. Resultado: rombo recorde nas contas externas de praticamente R$ 13 bilhões, o pior para o mês de maio desde 1980.
Sem competitividade, a indústria nacional está demitindo e afetando os dados de emprego no país. O pior é que estão justamente na indústria os empregos mais qualificados, com melhores salários.
Com a indústria demitindo, o consumidor freia as compras. O comércio também sofre. A economia para. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer apenas 1% este ano, segundo estimativas do mercado.
A inflação continua alta, correndo o poder de compra do trabalhador. Os juros continuam altos, afastando ainda mais o consumidor das lojas.
Tudo isso gera desconfiança em consumidores, empresários e investidores. Ninguém sabe o que virá aí. Ninguém sabe como 2014 terminará e 2015 começará. Na dúvida, todos se recolhem.
Os ufanistas, ou mal informados, ou apenas os apaixonados pela presidente, dizem que tais análises são de pessimistas e não se sustentam. Que o novo saque que o governo planeja fazer nas contas da Petrobras é normal. Que a Copa é um sucesso e tudo vai bem. Que temos complexo de vira-lata. Ok, a Copa vai bem, mas não consegue mais fazer maquiagem na economia. Como disse, o brasileiro, aparentemente, aprendeu a separar pão e circo. Na hora do circo, circo. Na hora do pão, o bicho pega.
Os números falam por si. São números oficiais, do governo. O crescimento pífio do país esses ano já é admitido inclusive pelo austero Banco Central (BC). A economia estagnada não é fruto dos pessimistas de plantão. Claro, haverá sempre quem queira levar a coisa para esse lado. Mas paixão é paixão. E razão é razão.
Se a torcida xinga dentro do campo, é porque aqui fora o jogo não está tão bom.
O pior cego não é aquele que não ver ver. É aquele que vê e finge que nada vê.
Foi na segunda-feira, durante o jogo entre Brasil e Camarões, no estádio Mané Garrincha, em Brasília (foto Agência Brasil).
Após o quarto gol do Brasil (a seleção venceu por 4x1), torcedores presentes no estádio voltaram a xingar a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.
O mesmo xingamento tosco já usado na partida de abertura da Copa, entre Brasil e Croácia.
Os xingamentos, por piores que sejam, trazem uma lição: a de que a insatisfação com a presidente Dilma não foi amortecida pelos bons resultados da seleção brasileira. De fato, Dilma nunca esteve tão mal avaliada pela população.
O índice de rejeição da presidente (ou seja, quem não votaria nela de forma alguma), segundo pesquisas já divulgadas, atinge 42%. Nunca antes na história desse país um governante com mais de 40% foi reeleito ou elegeu o sucessor. A intenções de voto na presidente estão oscilando, mas já chegaram a bater em 33%, o que também acende a luz amarela no Planalto.
Há outra lição aí: a sociedade brasileira, já amadurecida, aprendeu a separar futebol e eleições.
Na hora da Copa, ela torce e vibra pelo Brasil.
Mas não se esquece de que a fatura da Copa vai chegar e que o país da Copa vai mal das pernas quando o negócio é serviço público e economia.
As últimas notícias da economia não são boas para o país. Não são boas para nenhum brasileiro.
Dados divulgados ontem mostram que saldo líquido de vagas de trabalho com carteira assinada em maio é o pior resultado para o mês nos últimos 22 anos. A anemia da indústria brasileira é a principal responsável pelo resultado. O saldo (58,8 vagas) é quase 20% menor do que maio de 2013 (e em ano de Copa do Mundo). A indústria de transformação apresentou saldo negativo de 22.533 postos de trabalho.
Tudo isso é reflexo de uma política econômica errática, que privilegiou o consumo mas se esqueceu de fortalecer quem garante o consumo: a indústria nacional, sufocada por impostos e burocracia.
Sem competitividade, a indústria brasileira viu a ânsia de consumo dos brasileiros ser atendida por produtos importados. Resultado: rombo recorde nas contas externas de praticamente R$ 13 bilhões, o pior para o mês de maio desde 1980.
Sem competitividade, a indústria nacional está demitindo e afetando os dados de emprego no país. O pior é que estão justamente na indústria os empregos mais qualificados, com melhores salários.
Com a indústria demitindo, o consumidor freia as compras. O comércio também sofre. A economia para. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer apenas 1% este ano, segundo estimativas do mercado.
A inflação continua alta, correndo o poder de compra do trabalhador. Os juros continuam altos, afastando ainda mais o consumidor das lojas.
Tudo isso gera desconfiança em consumidores, empresários e investidores. Ninguém sabe o que virá aí. Ninguém sabe como 2014 terminará e 2015 começará. Na dúvida, todos se recolhem.
Os ufanistas, ou mal informados, ou apenas os apaixonados pela presidente, dizem que tais análises são de pessimistas e não se sustentam. Que o novo saque que o governo planeja fazer nas contas da Petrobras é normal. Que a Copa é um sucesso e tudo vai bem. Que temos complexo de vira-lata. Ok, a Copa vai bem, mas não consegue mais fazer maquiagem na economia. Como disse, o brasileiro, aparentemente, aprendeu a separar pão e circo. Na hora do circo, circo. Na hora do pão, o bicho pega.
Os números falam por si. São números oficiais, do governo. O crescimento pífio do país esses ano já é admitido inclusive pelo austero Banco Central (BC). A economia estagnada não é fruto dos pessimistas de plantão. Claro, haverá sempre quem queira levar a coisa para esse lado. Mas paixão é paixão. E razão é razão.
Se a torcida xinga dentro do campo, é porque aqui fora o jogo não está tão bom.
O pior cego não é aquele que não ver ver. É aquele que vê e finge que nada vê.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Onde está Pimenta (2)
Ontem, postei aqui que o pré-candidato do PSDB ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, havia tomado um chá de sumiço. Não compareceu a nenhum evento político nos últimos dias, nem mesmo os que tiveram a participação de seu mentor, o senador Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência da República. Por isso, deixei a pergunta no ar: onde está Pimenta?
Hoje, o jornalista Orion Teixeira, um dos experts em política mineira, respondeu à pergunta em sua coluna diária no jornal Hoje em Dia: Pimenta está em São Paulo, fazendo curso de oratória e posicionamento diante de câmeras para melhor enfrentar a campanha.
Taí a resposta.
Hoje, o jornalista Orion Teixeira, um dos experts em política mineira, respondeu à pergunta em sua coluna diária no jornal Hoje em Dia: Pimenta está em São Paulo, fazendo curso de oratória e posicionamento diante de câmeras para melhor enfrentar a campanha.
Taí a resposta.
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