segunda-feira, 14 de julho de 2014

Em Minas, tudo é possível


     Os dois principais candidatos ao governo de Minas, Fernando Pimentel (PT) - na foto à direita - e Pimenta da Veiga (PSDB) - à esquerda - estão tocando o bumbo de forma diferente nesse início de campanha.
     Pimentel, que lidera as pesquisas com uma frente de aproximadamente 10 pontos percentuais, faz o que deve fazer: está mostrando seu cartão de visitas, ou seja, o que fez quando ocupou a Prefeitura de Belo Horizonte. Há obras sociais e de infraestrutura importantes que foram efetivamente realizadas na gestão do petista e outras que foram complementadas pelo seu sucessor, o atual prefeito Márcio Lacerda (PSB).
     Também acerta quando mostra que parte dos projetos e ideias adotadas quando foi prefeito podem ser levadas, de alguma forma, ao interior. E se apega em parte do legado da desgastada presidente Dilma Rousseff (PT), como o projeto Minha Casa, Minha Vida. Ao mostrar o que fez em BH e o que pode fazer em Minas, mantém a campanha com foco no plano estadual.
     Já Pimenta parece ter optado por nacionalizar a campanha. Tem abordado com frequência temas como inflação e outros que, certamente, farão parte do debate da campanha presidencial. A ideia parece ser fazer com que o eleitor associe Pimentel à inflação e à presidente Dilma, colando nele o desgaste que a má fase da economia brasileira vive. É, como diria o ex-governador Hélio Garcia, uma faca de dois legumes. A estratégia tanto pode funcionar como pode passar a imagem que Pimenta não tem ainda, efetivamente, propostas para Minas Gerais.
     Pimenta, aliás, ainda é uma incógnita política. Foi retirado pelo senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, de seu retiro político de quase vinte anos e de sua vida como advogado em Brasília, onde residiu durante todo esse tempo. De Brasília, surgiu em Minas como candidato de Aécio ao governo do Estado. O senador mineiro teria outras opções em seu grupo político, como o próprio governador Alberto Pinto Coelho (PP) e o candidato a vice na chapa de Pimenta, Dinis Pinheiro (PP), campeão de votos no estado. Por que escolheu Pimenta? É aí que a política mineira vira uma chapa quente.
     Da forma como vem conduzindo sua campanha, Pimenta serve mais como uma alavanca para a campanha presidencial de Aécio do que para vencer efetivamente a disputa contra seu adversário. Ao colocar em debate os erros do PT na economia nacional, que está praticamente parada, oferece munição a Aécio, que enfrentará a presidente Dilma Rousseff na disputa pelo Palácio do Planalto. Pimenta nacionalizou a disputa. Pimentel puxa o debate para as questões mineiras.
     É verdade que Pimenta não tem muito o que mostrar aos mineiros. Ficou pouco tempo à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, de onde saiu como candidato ao governo de Minas, em 1990. Chegou em terceiro lugar na disputa. Foi deputado e ministro de FHC, mas os mineiros mais novos praticamente não o conhecem, como as pesquisas já mostraram. Mas está deixando de usar sua principal arma: a maioria dos mineiros aprovam a gestão tucana no estado e gostam de morar aqui. Programas como o Caminhos de Minas deram resultados, bem como outros na área social, como o Mães de Minas, e na educação básica. Por que, então, levar o debate para o plano nacional? Seria uma tentativa, neste primeiro momento, de mostrar ao eleitor qual são os campos da situação e da oposição?
     Pimenta não é muito afeito a campanhas desgastantes. Em 1990, seus assessores queixaram-se de que o candidato praticamente havia sumido da campanha por motivos pessoais, desmarcando compromissos previamente assumidos. Atualmente, alguns assessores já se queixam de que ele se recusa a dar entrevistas a rádios e outros veículos de imprensa. Estranho para um candidato que está 10 pontos percentual abaixo de seu oponente. Ou é excesso de confiança no grupo político de Aécio ou há, por trás de tudo, alguma estratégia que até agora não veio à tona.
     Em Minas, tudo é possível. Aécio e Pimentel estiveram juntos, lado a lado, no apoio à eleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), em 2008. Naquele ano, Pimentel era o prefeito e ala mais à esquerda do PT nunca engoliu a aliança com Aécio. Lacerda governou com o PT de Pimentel. O partido fez parte da administração municipal até os 45 minutos do segundo tempo, quando então decidiu descer do barco e lançar a candidatura de Patrus Ananias à PBH en 2012. Patrus foi derrotado no primeiro turno por Lacerda e Aécio e hoje, candidato a deputado, tem acompanhado Pimentel em suas andanças de campanha. Ah: Aécio mantém com Lula uma relação cordial.
    Mas há algo de estranho no ar. Algumas pontas da campanha eleitoral em Minas ainda estão soltas e sem respostas. E, de fato, em Minas tudo é possível.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Copa começou!

     O título deste post não se refere, obviamente, à Copa de futebol da Fifa, que terminou de forma vexatória para a seleção brasileira.
     Falo da verdadeira Copa que o Brasil terá de enfrentar de maneira corajosa daqui para frente.
     Há a Copa da economia. Temos de descobrir o esquema tático mais adequado para reduzir a inflação, dar competitividade à indústria nacional e manter a nova classe média viva, já que o dragão inflacionário ameaça devolver, à classe D, 10 milhões de brasileiros que acabaram de chegar à C. Não há muito o que fazer nesse caso: é preciso cortar gastos da máquina pública e coragem para fazer uma reforma tributária que seja capaz de aliviar o setor produtivo e redistribuir, de forma mais justa, o dinheiro da arrecadação de impostos entre estados, município e União. Hoje, praticamente toda a arrecadação é centralizada na União. Temos uma federação de mentirinha.
     Há a Copa da educação. Não basta apenas abrir faculdades e formar profissionais incapazes de lidar, de forma satisfatória, com a rotina diária de seu trabalho. Se não fizermos um pacto para investir na educação de base, em nossas crianças, não chegaremos a lugar algum. Hoje, somos um país de analfabetos funcionais. E temos um exército de oito milhões de pessoas que não têm qualquer chance de chegar ao mercado de trabalho.
     Há a Copa da saúde, que estamos perdendo de goleada. E não é por falta de recursos. É por falta de gestão, planejamento e profissionalismo por parte da esfera pública.
     Há a Copa da infraestrutura, que vem nos aplicando uma goleada maior do que a imposta pelos 7 a 1 da Alemanha. Temos gargalos em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. A questão energética parece uma bomba pronta para explodir. A principal alavanca da economia, que tem sido o agronegócio, sofre dos dois lados. De um, não tem estradas ou portos para exportar o que produz da porteira para dentro. De outro, insumos como energia pesam cada vez mais na horta do produtor.
     Há a Copa da corrupção. Precisamos vencer a cultura que vem do Brasil colonial, de que a corrupção é o único caminho a seguir. Precisamos punir e vencer a corrupção, que rouba bilhões de reais do país todos os anos. No Brasil de séculos atrás, trabalho era desonra. Nobres e filhos de famílias ricas não trabalhavam, ou só trabalhavam depois de formados na Europa. O que temos, na verdade, não é complexo de vira-lata. É complexo de nobreza.
     Enfim, há um país esperando para ser construído. Avançamos alguma coisa nos últimos anos, mas tudo pode ser perder se fizermos, agora, as escolhas erradas na economia, na educação, na infraestrutura.
     Países que durante décadas estiveram bem atrás do Brasil, como Colômbia, castigada durante anos pelo narcotráfico e guerrilha, e México, estão se tornando mais competitivos do que o Brasil. E até o Paraguai - pasmem - foi capaz de criar um sistema tributário simples e eficaz, que está revolucionando o país.  Em breve, o Paraguai deixará de ser sinônimo de produtos importados de baixa qualidade e será um dos destaques da economia sul-americana. A reforma tributária no país vizinho, levada a cabo de forma silenciosa, conseguiu desestimular a sonegação e está atraindo indústrias, inclusive brasileiras, para seu território.
     Teremos duas décadas decisivas à frente. Neste período, ou nos firmaremos no cenário global como uma potência econômica ou cairemos definitivamente no ostracismo e na irrelevância de exportador de commodities.
     Tudo depende das nossas escolhas. As escolhas que a nascente sociedade brasileira, que deu as caras em junho do ano passado, fará daqui para frente.
     Me espanta ainda ver tanta gente, que deveria ser luz para a sociedade, falando em "coxinhas", luta de classes, retrocessos.
     Me espanta ainda ver tanta ignorância, tanta cegueira, tanta idiotice.
     Me espanta ver uma classe política mais interessada no bolso do que no futuro do país. Se o Brasil perder esse bonde da história, não haverá volta. Estaremos condenados a sermos todos "coxinhas" sem recheio.
     O mundo ainda espera que o Brasil ocupe o espaço que lhe cabe na nova ordem econômica mundial. Mas não esperará para sempre. Não existe vácuo. Outras nações, talvez mais inteligentes, ocuparão nosso lugar.
     Essa é a verdadeira Copa do Mundo.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Procura-se Alexandre, o Grande

     Diz a lenda que Alexandre, o Grande, deparou-se um dia com um desafio: desatar o nó inventado por Górdio, e que até então ninguém havia conseguido desfazer. Alexandre analisou o nó.... e, com um simples golpe de espada, rompeu-o (a ilustração ao lado retrata o fato).
     Estamos hoje inebriados pela Copa, mas a economia vai cobrar a fatura com o fim do torneio, seja o Brasil campeão ou não. E há um nó górdio na economia.
     Os brasileiros (pessoa física) estão devendo hoje R$ 1,3 trilhão, segundo dados do Banco Central (BC). Esse valor significa tudo que os brasileiros devem ao sistema financeiro, entre cheque especial, empréstimos consignados, etc. O consignado, aliás, já bateu em R$ 235 bilhões. O nó da economia, portanto, é o nó que está no pescoço dos endividados.
     Olhando os números de forma fria, pode-se dizer que a taxa de endividamento na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de mais de R$ 2 trilhões, ainda não assusta. Mas quem está com a corda no pescoço sabe onde o calo dói. E é sempre bom lembrar que 55 milhões de brasileiros estão com o nome sujo na praça por não conseguirem honrar suas dívidas. Quando empresas acumulam dívidas, o governo lança Refis para ajudar no pagamento. Os consumidores brasileiros, pessoa física, estão precisando de um grande Refis.
     O fato é que o modelo de crescimento impulsionado nos últimos anos por crédito fácil e consumo esgotou-se. Ele foi importante, mas deveria vir acompanhado de outras medidas que foram deixadas de lado. O resultado, todo mundo já sabe: o país está parado. O crescimento econômico desse ano, segundo as previsões mais otimistas, chegará a 1% - ou menos. A indústria automobilística já está demitindo. Outros setores industriais, espremidos por uma carga tributária hexacampeã, também estão parando. O que segura a economia, neste momento, é a agricultura e a exportação de commodities, como minério de ferro e grãos.
     Endividado e com receio de desemprego, o consumidor fica desconfiado e para de comprar. E vê a inflação, domada há 20 anos pelo Plano Real - e ressuscitada agora - , corroer seu salário dia a dia. O remédio é amargo: o BC já jogou os juros em 11% ao ano (taxa Selic) para conter consumo e inflação - e seus diretores dizem que, quanto menos consumo, melhor. É a confissão oficial de que o modelo atual está esgotado. Sem consumo, o comércio se retrai e a indústria, que já está parada, cancela investimentos. Este é, resumidamente, o cenário com o qual os candidatos ao Palácio do Planalto (a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) terão de lidar.
     A campanha está começando agora e ainda não surgiram propostas para desatar o nó górdio da economia. Não se sabe, por exemplo, se a proposta da presidente Dilma é manter o modelo atual ou mudar alguma coisa - se a opção for por mudança, ela já poderia ter começado a fazê-las, já que está na cadeira de presidente e tem a caneta na mão. Aécio fala em repetir o choque de gestão mineiro e reduzir ministérios e gastos da máquina pública, além de reforma tributária. Campos ainda é uma incógnita.
     O que se sabe é que o fim de 2014 e os primeiros meses de 2015 serão particularmente duros. O quadro de incertezas deverá perdurar até lá, bem como a estagnação da economia com inflação em alta - o pior dos mundos. O novo presidente, seja quem for, terá de tomar medidas fortes para desatar o nó górdio da economia. Terá de ser duro com a inflação e com gastos desnecessários, como os quase 40 ministérios atuais, criados para abrigar aliados políticos. Terá de definir a nova política para o salário mínimo e ter vontade política para uma ampla reforma tributária, que dê à indústria nacional condições de competir em pé de igualdade com os concorrentes estrangeiros. Hoje, a indústria brasileira só é competitiva na América do Sul - e, mesmo assim, nosso principal parceiro comercial, a Argentina, está quebrada.
     Precisamos de um Alexandre, o Grande, para desatar esse nó.