O senador Aécio Neves (PSDB) deve ter recebido com satisfação a pesquisa de intenção de voto para presidente da República divulgada hoje pela CNT. Nela, a presidente Dilma Rousseff (PT), até então considerada imbatível para reeleição, sofreu uma nova queda de 6,7 pontos percentuais e agora tem 36,4% das intenções de voto, ante 21,2% do tucano. A presidente está em queda livre e o pior ainda nem chegou - as manifestações populares de junho e a provável deteriorização do quadro econômico, se nada for feito. Mantega balança no Ministério da Fazenda.
Por outro lado, é hora de Aécio começa a se preocupar com a situação em Minas.
Aqui, o pré-candidato do PSDB ao governo do estado, Pimenta da Veiga, ainda não conseguiu consolidar sua candidatura. Em contrapartida, seu principal oponente, o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Pimentel (PT), vai levando sua candidatura de um jeito leve, sem bater, percorrendo municípios e tentando capturar os efeitos positivos do que lhe sobrou da máquina pública federal, como o Programa Mais Médicos e entrega de tratores a prefeitos. Tem o apoio de um PMDB dividido, mas suficiente para garantir-lhe um bom tempo de programa eleitoral em rádio e televisão. E o principal: tem a seu favor o "fator BH".
Como vice do "doutor BH" (Célio de Castro) e ex-prefeito de Belo Horizonte (Pimentel comandou a PBH antes de Márcio Lacerda), a lembrança de seu nome e de sua administração ainda está viva na memória do eleitor da capital. Seu governo foi aprovado pelos belo-horizontinos. Sim, ele receberá pedras na vidraça, como o próprio Pimenta já recebeu. Mas o potencial de estrago das pedradas é uma incógnita, tanto de um lado quanto do outro.
Pimenta, por sua vez, foi prefeito em 1989 e abandonou o cargo em 1990 para concorrer ao governo do Estado, numa campanha recheada de equívocos e na qual foi derrotado. Ou seja, além de o eleitor de BH já não guardar mais a memória de sua administração (ou recall), o fato de ele ter deixado o cargo também poderá servir de munição para os petistas. Some-se a isso um longo período afastado da vida pública e teremos um cenário de alerta para os tucanos.
É verdade que, em eleições anteriores, Aécio conseguiu eleger para cargos majoritários pessoas até então desconhecidas do eleitor, como Márcio Lacerda e o próprio ex-governador Antonio Anastasia. Mas, agora, Aécio terá de cuidar de sua própria campanha presidencial. Pimenta terá de ser carregado por Anastasia (que também estará em campanha pelo Senado) e pelo governador Alberto Pinto Coelho, que chegou a ser cogitado como o ungido para a disputa pelo Palácio Tiradentes como representante do grupo de Aécio. Detalhe: seu partido, o PP, faz parte da base de Dilma do plano federal. Como se comportará Alberto Pinto Coelho?
Nas eleições para governador do estado de 1994, um até então desconhecido ex-prefeito de BH, Eduardo Azeredo (PSDB), bateu o favoritíssimo Hélio Costa, hoje no PMDB. BH praticamente deu a vitória a Azeredo, ao forçar o segundo turno com Costa. E, ao jogar a disputa para o segundo turno, o tucano pôde enfim contar com o engajamento total do então governador Hélio Garcia. Até então reticente, Garcia viu, com o segundo turno, chances reais de vitória de Azeredo, arregaçou as mangas e virou o jogo no no interior do estado. Naquele ano, o "fator BH" decidiu as eleições. Hoje, fim de abril, Pimentel conta com o "fator BH". A questão é saber se Pimenta vai conseguir virar o jogo.
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